"Era preciso que houvesse algum elemento dos cuidados de saúde primários, nomeadamente um médico de família, nesse grupo, e não existe", lamentou Nuno Jacinto.

Questionado pela Lusa sobre as prioridades que o plano deveria definir ao nível dos cuidados de saúde primários, respondeu que a aposta nos recursos humanos é o mais urgente.

"Aqui não falo só de médicos (...) falo de médicos, enfermeiros, secretários clínicos, mas também dos outros profissionais de que nós precisamos, como assistentes sociais, psicólogos, nutricionistas, fisioterapeutas. Faltam muitos deles em muitos locais do país e nós precisávamos disto para dar confiança às equipas e podermos fazer aquilo a que nos propusemos", afirmou.

Em segundo lugar na lista de prioridades nos cuidados primários, o presidente da APMGF apontou a autonomia, sublinhando: "Nós precisamos de apostar na autonomia, com responsabilidade, das equipas".

"Quando eu digo com responsabilidade e obviamente comprometer as equipas com determinados objetivos, como elas já estão habituadas, (...) também não precisamos de ser utópicos e tocar em todas as áreas, mas estabelecer um compromisso em três, quatro ou cinco áreas fundamentais e colocar as equipas, que sabem melhor do que ninguém as necessidades da população que servem, a trabalhar (...), dando-lhes a autonomia para gerirem os recursos que têm disponíveis", explicou Nuno Jacinto.

Se se conseguisse responder nestas duas áreas -- recursos humanos e autonomia -- no seu entender conseguia-se melhorar a resposta dos cuidados de saúde primários, o que teria impacto também nos hospitais.

"Obviamente que isto teria impacto a nível dos cuidados hospitalares, mas também faríamos com que os profissionais estivessem mais satisfeitos, mais motivados", acrescentou.

O primeiro-ministro, Luís Montenegro, anunciou durante o debate quinzenal da passada quarta-feira, na Assembleia da República, que irá apresentar o programa de emergência para a saúde dentro de duas semanas.

Segundo explicou, este plano terá especial incidência na recuperação de cirurgias, na obstetrícia e nas respostas no âmbito da medicina familiar.

"No máximo, dentro de duas semanas, o país vai conhecer o programa de emergência que temos para a saúde. Vai ter incidências na recuperação dos tempos de espera para cirurgias, em particular as mais problemáticas -- por exemplo, as oncológicas. Vai ter foco especial na obstetrícia e um plano de resposta de medicina familiar para cerca de 1,5 milhões de portugueses sem médico de família", especificou.

O grupo de 13 pessoas que está a preparar este plano é coordenado pelo antigo presidente do Infarmed Eurico Castro Alves, licenciado em Medicina pela Faculdade de Medicina da Universidade do Porto e doutorado em Medicina pelo ICBAS - Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar.

Além de Eurico Castro Alves, integram o grupo, entre outros, Alberto Caldas Afonso, pediatra e diretor do Centro Materno-Infantil do Norte; António Marques, professor catedrático e anestesiologista que foi responsável pela Comissão de Gestão do Plano do Ministério da Saúde para a Jornada Mundial da Juventude; Catarina Baptista, administradora hospitalar que foi vogal da anterior administração liderada por Ana Paula Martins à frente do Hospital de Santa Maria, e João Gouveia, diretor do serviço de Urgência Central da ULS de Santa Maria.

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