"A batalha de Rafah é decisiva. Não visa apenas o que resta dos seus batalhões (do movimento islamita palestiniano Hamas), mas também as suas rotas de fuga e linhas de abastecimento. Esta batalha, da qual sois parte integrante, vai decidir muitas coisas nesta campanha", declarou Netanyahu, citado num comunicado do seu gabinete, dirigindo-se a soldados a combater em Rafah, após um voo de reconhecimento aéreo sobre a cidade, no extremo sul de Gaza.

As declarações do líder israelita surgem no mesmo dia em que o Exército confirmou que cinco soldados morreram e sete ficaram feridos no campo de refugiados de Jabalia, no norte de Gaza, depois de um tanque israelita ter disparado contra o edifício em que se encontravam -- o que eleva para 278 o número de soldados israelitas mortos desde o início da ofensiva terrestre à Faixa de Gaza, em outubro do ano passado, segundo dados militares.

"Estamos aqui num dia difícil, um dia em que tomámos conhecimento da morte de cinco dos nossos combatentes. Isso não enfraquecerá o nosso espírito de luta", afirmou Netanyahu, sem aludir ao facto de terem sido mortos por "fogo amigo" durante a ofensiva terrestre a Rafah, iniciada a 06 de maio, e recordando-lhes que são a "geração da vitória".

Na quarta-feira, num tom semelhante, o ministro da Defesa israelita, Yoav Gallant, avisou que Israel vai expandir a ofensiva militar a Rafah com "forças adicionais" para debilitar o Hamas e impedir que se reabasteça, pelo que é possível que nos próximos dias o Exército alastre as áreas de evacuação forçada em Rafah, de onde já fugiram cerca de 500 mil palestinianos, segundo a ONU.

Israel declarou a 07 de outubro do ano passado uma guerra na Faixa de Gaza para erradicar o Hamas depois de este, horas antes, ter realizado em território israelita um ataque de proporções sem precedentes, matando mais de 1.170 pessoas, na maioria civis.

Desde 2007 no poder em Gaza e classificado como organização terrorista pelos Estados Unidos, a União Europeia e Israel, o Hamas fez também mais de 250 reféns, 128 dos quais permanecem em cativeiro e 36 morreram entretanto, segundo o mais recente balanço do Exército israelita.

A guerra, que hoje entrou no 223.º dia e continua a ameaçar alastrar a toda a região do Médio Oriente, fez até agora na Faixa de Gaza pelo menos 35.272 mortos, mais de 79.000 feridos e cerca de 10.000 desaparecidos presumivelmente soterrados nos escombros, na maioria civis, de acordo com números atualizados das autoridades locais.

O conflito causou também quase dois milhões de deslocados, mergulhando o enclave palestiniano sobrepovoado e pobre numa grave crise humanitária, com mais de 1,1 milhões de pessoas numa "situação de fome catastrófica" que está a fazer vítimas - "o número mais elevado alguma vez registado" pela ONU em estudos sobre segurança alimentar no mundo.

O Gabinete das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) denunciou hoje que é "quase impossível" fazer chegar ajuda humanitária e combustível à Faixa de Gaza, após o encerramento do posto fronteiriço de Rafah no passado dia 06 de maio, quando Israel iniciou a sua ofensiva terrestre àquela zona onde se encontravam refugiados cerca de 1,4 milhões de palestinianos obrigados a deslocar-se, muitos várias vezes, ao longo dos mais de sete meses da guerra israelita contra o Hamas.

Por causa da impossibilidade de acesso da ajuda humanitária ao território, "a capacidade operacional de cinco hospitais de campanha em toda a Faixa ficará significativamente reduzida em menos de 48 horas", alertou, por sua vez, a Agência da ONU para os Refugiados Palestinianos (UNRWA), temendo o seu iminente encerramento e um colapso sanitário.

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