Um comboio segue desgovernado com falha no sistema de travagem e, se continuar, irá colher fatalmente dez pessoas. Você pode alterar o seu trajeto para outra linha apenas premindo um botão. Porém, se o fizer, irá sacrificar a vida de uma pessoa que se encontra nessa linha alternativa.

Qual a sua atitude? Vai ficar quieto e deixar acontecer? Ou vai literalmente assassinar aquela pessoa que se encontra na outra linha?

Agora imagine que no trajeto do comboio se encontra um casal de idosos. Se desviar o comboio, vai poupar a vida desse casal, mas encaminha o comboio para duas crianças de cinco anos.

O que vai fazer? Vale a pena mudar o curso dos acontecimentos para salvar dez vidas sacrificando uma? Vale a pena sacrificar duas pessoas idosas para salvar duas crianças?

Este dilema é muito antigo, mas ilustra perfeitamente o que é o custo de oportunidade – um dos conceitos mais importantes quando tomamos qualquer decisão: sempre que fazemos uma escolha, ainda que essa escolha signifique nada fazer, estamos a abdicar de todas as outras opções possíveis. Como as perdemos, são elas o nosso custo de oportunidade.

Estávamos no final do séc. XX quando o governo PS de António Guterres encontrou uma forma engenhosa de fazer omeletes sem ovos – queria mostrar obra para as eleições legislativas de 1999 e conseguiu. A artimanha consistiu em colocar empresas privadas a construir autoestradas para as pessoas utilizarem, mas sem que o Orçamento de Estado (OE) tivesse de investir um cêntimo. Ao realizar a construção, a empresa fica com a concessão da sua exploração durante um período, passando todos os anos o OE a pagar uma renda. Durante dezenas de anos andamos todos a pagar independentemente de a utilizarmos ou não.

Dir-me-ão que foram construídas SCUT um pouco por todo o país, pelo que estão todos a pagar as SCUT de todos. Sim, é verdade. Mas também é verdade que há pessoas em todo o país que nunca ou quase nunca as utilizam e têm de pagá-las também.

Porém, como o Orçamento do Estado não suportava estas despesas criadas pelo PS de António Guterres, o PS de José Sócrates acabou com esta borla, introduzindo portagens para aliviar os custos de um Estado falido.

Recentemente, o PS de Pedro Nuno Santos, numa coligação com André Ventura, reverteu a reversão do PS de José Sócrates, voltando a dar uma borla aos utilizadores das SCUT.

Dir-me-ão que esta é uma questão de justiça social, promovendo a mobilidade das zonas mais interiores. Sim, é verdade. Mas é aqui que entra a história do comboio em andamento. O impacto no Orçamento do Estado pode atingir 1 500 000 000 euros.

Infelizmente, há muitos portugueses que não têm acesso a saneamento nem água canalizada. Há também muitas localidades que têm promessas de construção de uma estrada ou de um acesso a estradas e vias rápidas há várias décadas [1]. Há edifícios públicos onde chove no Inverno e o calor é insuportável no Verão [2]. Há mobiliário utilizado por funcionários públicos que já devia ter sido reciclado há muito tempo. Há tribunais sem folhas de papel para poderem imprimir. Tudo isto acontece porque, NÃO HÁ DINHEIRO!

A coligação PS/Ventura aprovou um aumento da despesa de todos os contribuintes para que alguns deixem de pagar portagens quando conduzem o seu automóvel, ignorando as necessidades mais básicas das populações. Para além disso, nem sequer foi realizada uma análise ao impacto que isso pode vir a trazer em termos ambientas com o incremento do uso do carro particular em vez do transporte público.

A coligação PS/Ventura quis mostrar quem manda, prejudicando os portugueses. Já ouviu falar em logrolling? Carregue aqui para saber o que é.

Habituem-se, vão ser quatro anos disto. Ou talvez não...

Nota: não fique com problemas de consciência, pois não há uma resposta certa para as duas questões colocadas no início do texto.

Mário Queirós é dirigente da Iniciativa Liberal e professor do Ensino Superior

Sérgio Gomes é dirigente da Iniciativa Liberal e mestre em Engenharia Urbana

[1] Variante circular de Braga (desde 2007), variante à EN 14 na Trofa (2010), variante Amarante – Vila real (2015), variante Castelo Branco – Guarda (2011), Beja – Évora (2015), A26 Sines – Beja (2021), variante EN 206 em Mirandela, variante à EN 17 Coimbra – Oliveira do Hospital – Seia – Guarda

[2] Escolas Básica e Secundária de Santo Tirso e de Almada, Escola Secundária D. Maria II, em Braga, Esquadras da PSP de Porto, Lisboa, Setúbal e Faro, Esquadra da GNR de Braga, Tribunais da Relação, de Comércio, da Família e Menores de Lisboa, Judicial de Coimbra, Hospitais de S. João (Porto), Santa Maria e São José (Lisboa), de Beja, de Guimarães, construção do novo Hospital de Barcelos prometido desde 2006.