No plano político, o Secretário-Geral da ONU, António Guterres, voltou hoje a apelar para um cessar-fogo "imediato" na Faixa de Gaza, ao regresso dos reféns e a um aumento da ajuda ao território palestiniano sitiado, numa alocução em vídeo enviada a uma conferência internacional de doadores no Kuwait.

"Reitero o meu apelo, o apelo de todo o mundo, para um cessar-fogo humanitário imediato, a libertação incondicional de todos os reféns e um aumento imediato da ajuda humanitária. Mas um cessar-fogo será apenas o começo. Será um longo caminho para recuperar da devastação e do trauma desta guerra", afirmou o responsável.

A agência noticiosa palestiniana, citando fontes locais, disse que 12 corpos chegaram hoje ao hospital Kamal Adwan, na cidade de Beit Lahia, no norte, onde Israel retomou a sua ofensiva face ao regresso do Hamas.

A maior parte das tropas israelitas abandonou essa zona do enclave palestiniano há um mês para operar apenas no corredor que liga o norte e o sul de Gaza, mas nos últimos dias regressou ao norte, em particular ao campo de refugiados de Jabalia, onde dizem que o grupo islamita se está a reagrupar.

Israel prossegue também os seus ataques em Rafah, no extremo sul da Faixa de Gaza, onde ordenou a retirada de milhares de pessoas de diferentes bairros, enquanto leva a cabo uma "operação precisa contra o Hamas", segundo o porta-voz militar Daniel Hagari.

Segundo a agência Wafa, 18 corpos chegaram ao hospital de al-Kuwaiti, na cidade do sul, nas últimas horas, após vários bombardeamentos israelitas.

Nos últimos dias, cerca de 300.000 pessoas abandonaram a região, onde mais de um milhão de palestinianos se refugiou após o início da guerra.

Desde o início da guerra, em outubro, cerca de 35.000 pessoas perderam a vida no enclave palestiniano devastado, segundo os dados do Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlado pelo Hamas.

Além disso, milhares de corpos continuam debaixo dos escombros, inacessíveis às autoridades locais.

O grupo islamita palestiniano acusou Israel de cometer crimes de "genocídio, guerra de fome e limpeza étnica", num comunicado divulgado no sábado, em que denunciava o encerramento da passagem de Rafah pelo quinto dia consecutivo.

De acordo com o Hamas, a situação impediu milhares de feridos e doentes de saírem do enclave, onde quase não existem hospitais a funcionar, para receberem tratamento no exterior, e restringiu a chegada de alimentos e medicamentos.

"Apelamos à comunidade internacional, às Nações Unidas e às suas instituições para que tomem medidas urgentes para pôr termo a esta catástrofe humanitária", afirmou o grupo radical palestiniano.

De acordo com dados públicos da ONU, apenas seis camiões com ajuda humanitária entraram na Faixa de Gaza desde 5 de maio, data em que Israel fechou a passagem de Kerem Shalom - agora reaberta - na sequência de um ataque com foguetes do Hamas que causou a morte de quatro soldados.

O exército israelita afirmou no sábado à noite ter permitido a entrada de cerca de 200.000 litros de combustível através da passagem de Kerem Shalom e ter ajudado a coordenar a abertura de um hospital de campanha no centro de Gaza.

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