"Nós sabemos que precisamos de migrações", mas entendemos que tem de haver mecanismos de controlo e "alertámos" para os riscos das alterações às políticas migratórias, assume Marta Temido, apontando que as mudanças levam tempo a ter efeito. "Há centenas de pessoas com tudo em ordem à espera que os processos avancem", vinca Cotrim Figueiredo, acusando Portugal de não ter feito a sua parte. Em causa estão a extinção do SEF e os problemas que têm sido apontados à nova agência para as Migrações, AIMA.

Também Sebastião Bugalho lembra que os problemas e deficiências do pacto de migrações não tem que ver com os de outros. "Há 400 mil imigrantes à espera de concluir o processo", vincou o candidato da AD, lembrando que as redes de tráfico tomaram conta da realidade portuguesa. "O PS entregou as migrações a redes de tráfico humano", concluiu.

Fechar portas não é a solução, há que criar corredores humanitários, contrapôs o candidato do Livre.

O alargamento a Leste da União Europeia é o segundo tema focado, com Francisco Paupério a afirmar que há mecanismos capazes de ajudar à reconstrução da Ucrânia e o candidato da AD a ir mais longe, recordando que não se trata apenas de integrar Kiev.

E que efeito pode isso ter nos fundos que Portugal recebe? "O alargamento não pode ser lido à luz do que se vai perder, mas dos ganhos que traz", defende Sebastião Bugalho, afirmando que o manifesto da AD defende os trabalhadores agrícolas e lembrando, sobre a entrada de seis países, que temos para com eles uma "obrigação moral". Uma visão com a qual Cotrim de Figueiredo concorda. "Há obrigação moral de acolher estes países, interesse político de que defendam os nossos princípios europeus e lembre-se que são também mercados destino que podem abrir novas oportunidades." De resto, o candidato da IL vinca mesmo que se Portugal utilizasse bem os fundos europeus a questão nem sequer se punha desta forma. "Seria um país bastante mais forte — e não tenho nenhuma evidência que tenha sido assim".

E Portugal estará pronto para o processo de alargamento até ao final da década? É agora Marta Temido quem responde, apontando a necessidade de cumprimento de critérios rigorosos e adaptação da UE, nomeadamente com reformas orçamentais para responder. "Não serão os partidos que não têm ideia de que os fundos não são úteis ou são contra uma abordagem como a mutualização da dívida que vão defender uma lógica de contar com reforço de recursos próprios", afirmou Marta Temido. Com mais impostos? "Não", responde, admitindo de seguida que não pesarão sobre as pessoas mas sobre empresas, nomeadamente as big tech.

Não é apenas com impostos que se reforça o financiamento, lembrou Sebastião Bugalho, apontando por exemplo o mercado de licenças de emissão de CO2, que permite endereçar não apenas o reforço de orçamento como o esforço de sustentabilidade ambiental.

Há mais um tema em debate, agora as eleições americanas e o seu efeito na UE. Estará Portugal pronto para participar no esforço de reforço da defesa europeia? A primeira resposta vai para o candidato do Livre, que admite que a Europa tem de se preparar para as necessidades de defesa e de criar uma resposta verdadeiramente comum. Temos de discutir qual será a política interna de defesa, que deve ser mesmo de defesa, não deve ser militar de ataque." Com uma política de defesa comum, admite Francisco Paupério, haverá alguma reindustrialização de armamento, mas seguir-se-á os princípios europeus e isso permitirá escrutinar como as coisas são feitas, afirma, sublinhando porém que "uma política de defesa comum passa também pela segurança alimentar, de saúde, energética", nomeadamente pelo investimento em renováveis.

"Cumprir o mínimo exigido com a NATO é uma exigência", contrapôs Sebastião Bugalho, lembrando que a Europa tem de se assumir como pilar da NATO se quer ficar segura, não dependendo tanto dos EUA — uma visão com a qual Cotrim de Figueiredo concorda. "Nem todos os 27 concordam com emissões de dívida conjunta, mas sim se isso for apontado ao reforço de defesa da Europa", lembrou ainda o cabeça-de-lista da AD. E esse modelo, que não pesa nos limites de endividamento, "permitirá que os países não terão de escolher entre financiar a saúde ou comprar tanques, entre investir na educação ou comprar coletes à prova de bala", exemplificou. "Os europeus olham a defesa com interesse na paz", concluiu Bugalho.

"Eu fico muito preocupada com isso", contrapôs Marta Temido, não indo além da certeza de que "é preciso reforçar a defesa" e ter "respostas estratégicas", mas atendo-se antes à mutualização da dívida para a política de habitação ou a resposta social.

Para o final, fica o tema António Costa. E se o caso judicial for arquivado, pode o ex-primeiro-ministro ocupar um cargo europeu? "O que importa não é onde as pessoas nasceram, mas a competência", vincou o candidato liberal, admitindo que poderia preferir um português apenas se as capacidades dos candidatos em causa fossem semelhantes. "Preferir alguém só por ser português tem até laivos xenófobos", disse, lembrando que Delors foi melhor para Portugal do que Barroso.

"A visão de Costa para a Europa tem provas dadas e uma perspetiva solidária", defendeu por outro lado Marta Temido, dizendo que o ex-primeiro-ministro será "garantia de que a Europa avança", como o país avançou nos seus anos de governação. "A Europa está sob ataque, também de forças internas", vincou, apontando Costa como solução de "maior solidariedade" e para que "os portugueses não sejam enganados como nas legislativas com propostas que não se concretizam".

Lembrando que Os Verdes europeus não votam no tema, Francisco Paupério escusou-se a assumir posição, apontando o papel de Luís Montenegro como a posição que conta. "António Costa ainda nem se assumiu como candidato. Quando virmos todos os candidatos, faremos a escolha", disse apenas, pedindo que se dê à sua família eleitoral mais poder no Parlamento Europeu.

"A reciprocidade é um bom princípio", disse por fim, Sebastião Bugalho, lembrando o tempo de Barroso candidato, mas defendendo que Costa não deve ser o centro do debate europeu. "Já tivemos nove anos de governo Costa e não é tempo de voltar para trás."