Os fabricantes taiwaneses de 'chips' semicondutores, componentes essenciais para todos os dispositivos eletrónicos, desde equipamentos médicos a telemóveis, anunciaram nos últimos meses investimentos bilionários nos EUA, enquanto encerram ou reduzem as operações na China continental.

Estas mudanças, numa altura em que se intensifica a rivalidade entre Pequim e Washington, refletem os esforços de Taiwan para reduzir a dependência de Pequim e isolar-se da pressão chinesa, ao mesmo tempo que reforça os laços económicos e comerciais com o seu principal aliado, os Estados Unidos.

Os EUA substituíram a China continental como o principal destino das exportações de Taiwan no primeiro trimestre do ano, pela primeira vez desde 2016.

A ilha exportou 24,6 mil milhões de dólares (22,6 mil milhões de euros) de mercadorias para os EUA, nos primeiros três meses do ano, em comparação com 22,4 mil milhões de dólares (20,6 mil milhões de euros) para a China continental, de acordo com dados oficiais de Taiwan.

Os investimentos de Taiwan na China continental caíram para o nível mais baixo em mais de 20 anos, quase 40%, para três mil milhões de dólares (2,7 mil milhões de euros), no ano passado, em termos homólogos, de acordo com o Ministério dos Assuntos Económicos de Taiwan.

Os investimentos de Taiwan nos EUA aumentaram nove vezes, para 9,6 mil milhões de dólares (8,8 mil milhões de euros), em 2023.

Washington e Taipé assinaram um acordo comercial, no ano passado, e estão agora a negociar a fase seguinte. Os legisladores norte-americanos também apresentaram um projeto de lei para acabar com os impostos duplos para empresas e trabalhadores taiwaneses nos EUA.

"Tudo isto é motivado pelo desejo de reforçar a capacidade de dissuasão de Taiwan e a sua resiliência, apoiar a manutenção do 'status quo' e dissuadir a China de se sentir tentada a tomar medidas contra Taiwan", afirmou o Secretário de Estado Adjunto norte-americano, Daniel Kritenbrink.

O maior fabricante de 'chips' do mundo, a TSMC, que tem sede em Taiwan, anunciou no mês passado que vai expandir os seus investimentos nos EUA para 65 mil milhões de dólares (59,8 mil milhões de euros). Isto ocorre após o Governo norte-americano ter prometido até 6,6 mil milhões de dólares (6,07 mil milhões de euros) em incentivos que visam criar instalações da empresa no Arizona com capacidade para produzir cerca de um quinto dos semicondutores mais avançados do mundo, até 2030.

Além dos investimentos nos EUA, a TSMC está a investir no Japão, um forte aliado norte-americano na Ásia.

A Foxconn, conglomerado de Taiwan conhecido por produzir os iPhones da norte-americana Apple, está a construir capacidade de produção na Índia, enquanto a Pegatron, outra empresa de Taiwan que fabrica componentes para os iPhones e computadores, está a investir no Vietname.

A King Yuan Electronics Corp, uma empresa taiwanesa especializada em testes e embalagem de semicondutores, disse no mês passado que vai vender a sua participação de 670 milhões de dólares (616 milhões de euros) numa empresa da cidade chinesa de Suzhou, no leste do país. A KYEC citou fricções geopolíticas, a proibição de exportação de 'chips' avançados dos EUA para a China e a política de Pequim para alcançar autossuficiência tecnológica.

As exportações de semicondutores, componentes eletrónicos e equipamento de informática de Taiwan para os EUA mais do que triplicaram, desde 2018, atingindo quase 37 mil milhões de dólares (34 mil milhões de euros), no ano passado.

Não se trata apenas de tecnologia: a ilha mais do que triplicou as exportações de tapioca, por exemplo, nos últimos cinco anos, e está a vender cada vez mais frutas, nozes e peixes de viveiro para o mercado norte-americano.

Os dados comerciais recentes refletem "a estratégia de Taiwan e dos EUA para reorientar o comércio, num esforço para diminuir os riscos", disse Hung Tran, membro não residente do grupo de reflexão Centro de GeoEconomia, do Atlantic Council.

O peso dos mercados da China continental e Hong Kong para as exportações de Taiwan caíram de cerca de 44%, em 2020, para menos de um terço, no primeiro trimestre de 2024.

Foi "uma mudança muito grande", disse Tran. "Acho que provavelmente vai continuar a diminuir", observou.

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