"A nossa decisão de servir refeições a crianças no distrito de Mabalane, na província de Gaza, baseia-se nos elevados níveis de necessidade, na boa acessibilidade e um parceiro local especializado, bem como numa escassez de fornecimento de alimentação escolar na área e a oportunidade de utilizar alimentos adquiridos localmente", declarou à Lusa Magnus MacFarlane-Barrow.

"Certificamo-nos sempre de que a refeição é culturalmente adequada", indicou.

Para MacFarlane-Barrow, "é uma fonte de grande alegria o facto de estas crianças, quando regressarem para o novo período escolar, receberem as 'Mary's Meals' pela primeira vez".

Este programa é feito em parceria com a Mozambique School Lunch Initiative (MSLI), que vai "obter e entregar os ingredientes das refeições nas escolas", sendo que "as comunidades locais disponibilizarão voluntários para preparar, cozinhar e servir as refeições às crianças", incluindo os pais, explicou.

Moçambique é um dos países mais pobres do mundo, ocupando a posição 183 em 193 países e territórios, no Índice de Desenvolvimento Humano das Nações Unidas de 2023, referiu a instituição em comunicado.

De acordo com a Mary's Meals, o programa de ajuda inicia-se no sul de Moçambique, precisamente por se ter registado, ao longo dos anos, níveis de insegurança alimentar severa, agravada pelas secas provocadas pelo fenómeno climático El Niño.

O país foi atingido por 11 ciclones tropicais desde 2007 e, em março deste ano, a tempestade tropical Filipo atingiu as províncias do centro e sul, afetando dezenas de milhares de pessoas, acrescentou.

Moçambique tem uma das populações mais jovens do mundo - dois terços da população tem menos de 25 anos e mais de metade (56%) são crianças -, sendo que 38% das crianças com menos de cinco anos sofrem de desnutrição crónica, segundo dados do Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), citados no comunicado.

"Nos muitos países onde trabalhamos, constatamos que os nossos programas de alimentação escolar estão a desempenhar um papel fundamental no alívio da fome infantil, ao mesmo tempo que têm um impacto poderoso no acesso das crianças à educação e na sua prontidão para aprender", declarou MacFarlane-Barrow.

Segundo o fundador da Mary's Meals, ao promover o acesso à educação e ao dar às crianças a energia necessária para frequentarem a escola e participarem nas aulas, as refeições escolares podem ajudar a quebrar o ciclo da pobreza e abrir caminho a um futuro mais risonho para as crianças e as suas comunidades.

O custo médio para alimentar uma criança com a Mary's Meals durante um ano letivo inteiro "é de apenas 22 euros", explicou a instituição, que já ganhou o prémio Princesa de Astúrias da Concórdia em 2023.

"A fome e o acesso a alimentos adequados são desafios constantes para o povo de Moçambique, e as projeções do IPC (Integrated Food Security Phase Classification) sugerem que 3,3 milhões de pessoas estão a enfrentar níveis de "crise" ou "emergência" de insegurança alimentar, sendo que quase 65% da população vive abaixo do limiar internacional de pobreza", citou.

A Mary's Meals identifica os países onde as crianças vivem em níveis elevados de pobreza, insegurança alimentar e desnutrição e onde as taxas de escolarização são baixas, segundo declarou MacFarlane-Barrow.

Por isso, atualmente ajudam mais 2,4 milhões de crianças no Maláui, na Libéria, na Zâmbia, no Zimbábue, no Quénia, no Sudão do Sul, na Etiópia, no Benim, no Madagáscar, no Níger, no Líbano, no Equador, no Haiti, na Índia, no Iémen, na Síria e na Tailândia.

"Não só é mais provável que as crianças se inscrevam na escola se forem servidas refeições, como também é mais provável que frequentem e permaneçam nas aulas durante todo o dia, em vez de saírem mais cedo por causa da fome. E, depois da refeição, são mais capazes de se concentrarem nas aulas e de participarem nas mesmas", concluiu o fundador.

A Mary's Meals foi criada no âmbito da instituição de caridade Scottish International Relief, fundada depois de Magnus MacFarlane-Barrow e o seu irmão Fergus terem levado ajuda desde a sua cidade, em Argyll, Escócia, para Medjugorje, Bósnia-Herzegovina, durante a guerra, em 1992.

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