O problema é o tempo que quem está convicto de ter a razão, mesmo que esta lhe seja negada todos os dias, leva a entender que o mundo mudou. Acreditando-se modernos e progressistas, agarram-se a convicções anacrónicas e tomam a sua parte pelo que move o todo. E depois surpreendem-se a cada nova curva revelada pela realidade que se estende cada vez mais longe dos ecrãs e afastada das palas fechadas das redes sociais.
O PCP pode ser o exemplo mais simples de entender, quando defende, em plena apresentação das listas às Europeias de 2024, que "o país deve preparar-se para se libertar do euro e da submissão à moeda única" — como se à Europa e ao euro, mesmo com todas as ineficiências que se mantêm, Portugal não devesse a entrada no primeiro mundo. Mas quem insiste em tratar os portugueses como se ainda vivêssemos em 1980 está na mesma liga. E quem entende a representação do país na Europa como mais uma forma de dar força ao braço partidário e fazer vingar meia dúzia de bandeiras ideológicas que pouco trazem à vida de quem vota, terá os dias contados numa sociedade que, felizmente, parece estar mais atenta e mais alerta para as consequências das decisões (ou da falta delas) tomadas em São Bento e em Bruxelas.
O discurso de Sebastião Bugalho, cabeça-de-lista da AD às Europeias, foi exatamente tudo o que a clique política portuguesa não é. Inteligente, abrangente, pondo o foco nos temas que importam — o valor comprovado da construção europeia, a sustentabilidade no equilíbrio das suas três dimensões (a única possível de concretizar, que junta à preocupação ambiental a económica e a social), a digitalização feita com pés e cabeça, a coesão social, a defesa e os novos equilíbrios geopolíticos mundiais — e não se ficando pelo habitual umbiguismo provinciano da trica partidária.
Se a voz da experiência não é para desprezar — o que, aliás, é outro pecado da maioria dos políticos profissionais, que tratam os mais velhos como trapos incómodos —, longe vão os tempos em que a idade era um posto e o exercício político era palco exclusivo de militantes de carteira que se entendiam acima dos demais.
Portugal evoluiu, a ação política nem por isso. É portanto refrescante e um sinal de esperança ouvir vozes como a de Bugalho trazer-nos uma mensagem com conteúdo e que revela capacidade e talento de sobra para preencher os anos de calendário que alguns lhe apontam como falha.
Sendo independente, não é isento de uma visão para Portugal. Simplesmente não a deixa coartar pelas baias de um partido, anulando a tão proclamada liberdade individual em nome de uma narrativa partidária autocentrada. É desta mudança que, à esquerda como à direita, precisamos urgentemente.
Há demasiado tempo está a política entregue aos políticos. O país merece e precisa de mais do que ter candidatos a governantes que apenas lutam por chegar a um lugar, sem ideia ou projeto para cumprir aquilo que é uma missão cívica mas que entendem como devida recompensa; que põem os interesses partidários acima do que importa ao país. Portugal precisa dos seus melhores a pensar como pode exceder-se, precisa que todos os que têm capacidade e vontade tenham caminho aberto e ferramentas para cumprir o desígnio de crescimento que tem sido esquecido.
Sebastião Bugalho pode bem ser o que nos faltava para Portugal se abrir ao futuro.
Diretora editorial