"Percebo [que existam críticas ou queixas]. Acho que os países PALOP têm de fazer o seu trabalho de casa. Cinquenta anos após as independências não podemos continuar a ser muro de lamentação, temos é de fazer o nosso trabalho de casa", disse José Maria Neves.

O Presidente cabo-verdiano participa hoje no XII Encontro de Estudantes Maienses em Portugal, que junta alunos cabo-verdianos da cidade do Maio que frequentam várias escolas e faculdades portuguesas.

Em declarações à Lusa, à margem da iniciativa, José Maria Neves disse desejar que "os estudantes trabalhem muito para concluir os seus estudos", tendo como objetivo "essencial alcançar uma elevada qualificação para que possam depois contribuir para o desenvolvimento de Cabo Verde", mas "não necessariamente regressando ao país".

"Hoje as pessoas vivem em vários mundos. Onde quer que estejam devem procurar estar devidamente qualificados para contribuírem para o desenvolvimento de Cabo Verde", referiu.

Já perante os estudantes, ao longo de um encontro que culmina com a conferência "A importância da rede associativa para o sucesso académico", José Maria Neves foi até mais longe e referiu-se ao chamado "semestre zero".

"Querem saber se considero injusto o semestre zero? Não. Acho é que temos de fazer o nosso trabalho de casa. Temos de fazer a nossa preparação. E temos de acabar com o discurso da lamentação", disse.

Em março, foi tornado público um relatório sobre estudantes dos Países de Língua Oficial Portuguesa (PALOP) em Portugal que sugere um período preparatório para os alunos, para favorecer a integração e responder à forte procura, que está a transformar instituições do interior do país.

Em declarações à Lusa, Clara Carvalho, do Centro de Estudos Internacionais do Iscte -- Instituto Universitário de Lisboa, explicou que algumas instituições promovem um "semestre zero" que permite aos alunos adaptarem-se à pedagogia e sistema de ensino, algo que considera ser muito eficaz".

Hoj, o Presidente de Cabo Verde também pediu aos estudantes que sejam "diferentes e disruptivos" e procurem "ajudar Cabo Verde a transformar-se e a elevar-se".

"As remessas de dinheiro foram muito importantes para o desenvolvimento do país ao longo de muitos anos, mas agora temos de passar a mandar remessas de ideias. Para as ideias não há alfândegas (...). Mobilizar as nossas capacidades na diáspora e pô-las ao serviço de Cabo Verde", disse.

O programa da visita do chefe de Estado a São João da Madeira incluiu uma sessão solene de manhã, na Câmara Municipal.

De tarde está prevista uma visita ao Centro de Arte Oliva e a inauguração da exposição "António, sem título" no Museu do Calçado.

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