A HRW publicou um relatório onde descreve pelo menos oito ataques a caravanas e instalações de trabalhadores humanitários pelas forças israelitas, apesar de estas terem sido avisadas com respetivas coordenadas.

Por outro lado, acrescentou, as autoridades israelitas não emitiram avisos prévios a nenhuma das organizações humanitárias antes dos ataques, resultando na morte ou ferimento de pelo menos 31 trabalhadores humanitários e pessoas que os acompanhavam.

A ONU estima que 254 trabalhadores humanitários foram mortos em Gaza desde o ataque do movimento islamita Hamas no sul de Israel em 07 de outubro, ao qual as autoridades israelitas responderam com bombardeamentos e a ocupação militar do território palestiniano.

A maioria (188) trabalhavam para a própria Agência das Nações Unidas para os Refugiados Palestinianos (UNRWA), a qual registou 368 incidentes em instalações próprias, resultando na morte de menos 429 deslocados.

O incidente mais controverso foi aquele registado em 01 de abril, quando uma caravana humanitária da organização World Central Kitchen, que matou sete trabalhadores.

O Exército israelita admitiu "erro graves" e demitiu dois oficiais.

Mas a HRW salienta que aquele está longe de ser um "erro" isolado e detalha outros incidentes que afetaram organizações de ajuda humanitária e agências da ONU, como a Médicos Sem Fronteiras, UNRWA, International Rescue Committee (IRC), Medical Aid for Palestine (MAP) e American Near East Refugee Aid (Anera).

Nestes, adiantou, as forças israelitas mataram pelo menos 15 pessoas, incluindo duas crianças, e feriram pelo menos outras 16.

"Os oito incidentes revelam falhas fundamentais no chamado sistema de desagravamento de conflito, destinado a proteger os trabalhadores humanitários e a permitir-lhes prestar assistência humanitária em Gaza", vinca no comunicado.

A diretora adjunta de crises, conflitos e armas da Human Rights Watch, Belkis Wille, insta os aliados de Israel a fazerem mais pressão para que seja respeitado o direito internacional, incluindo através de sanções específicas.

"O homicídio por Israel de sete trabalhadores humanitários da World Central Kitchen foi chocante e nunca deveria ter acontecido à luz do direito internacional", vincou, citada num comunicado.

Wille defende que "os aliados de Israel precisam de reconhecer que estes ataques que mataram trabalhadores humanitários têm acontecido repetidamente e precisam de parar."

A organização de defesa dos direitos humanos salienta a responsabilidade de alguns dos países que forneceram armamento, dando como exemplo um ataque a 18 de janeiro feriu três pessoas alojadas numa casa pertencente a duas organizações de ajuda humanitária.

Este ataque "foi muito provavelmente levado a cabo com uma munição de fabrico americano", e lançada por um avião F-16, que utiliza componentes britânicos, de acordo com a MAP e um relatório de investigadores da ONU, refere a HRW.

A organização quer que israelitas e palestinianos colaborem com a investigação do Tribunal Penal Internacional (TPI) sobre crimes graves cometidos no conflito e que Israel faculte os dados relacionados com os tais ataques.

Belkis Wille sugeriu que as forças israelitas sejam responsabilizadas por estes crimes.

"Por um lado, Israel está a bloquear o acesso a provisões humanitárias essenciais para salvar vidas e, por outro, a atacar caravanas que estão a entregar algumas das pequenas quantidades que estão a permitir", lamentou.

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Lusa/fim