O "Círculo das Lojas de Carácter e Tradição de Lisboa" pretende "garantir a preservação, salvaguarda, viabilização presente e futura das lojas de caráter e tradição", contado já com a adesão de 21 estabelecimentos de comércio histórico e tradicional, disse um dos responsáveis pelo Fórum Cidadania Lx, Paulo Ferrero.
"Temos assistido ao longo destes últimos tempos ao fecho de uma série de lojas carismáticas de Lisboa", explicou o responsável, acrescentando que este projeto surge para "tentar inverter essa situação ou imunizar os estragos para a cidade".
Nos últimos três meses, o Fórum Cidadania Lx - movimento de cidadãos para salvaguarda do património de Lisboa - fez um levantamento das várias lojas tradicionais existentes na capital portuguesa, contactando com os proprietários para integrarem o "Círculo das Lojas de Carácter e Tradição", sem qualquer custo para os lojistas, com o objetivo de "promover o comércio de caráter e tradição a nível local, nacional e internacional, designadamente pela via cultural e turística".
O projeto pretende "colocar estas casas [lojas] nas rotas turísticas nacionais e estrangeiros", pelo que está em estudo, através da Associação de Turismo de Lisboa, "a integração das lojas nos mapas da cidade".
O "Círculo das Lojas de Carácter e Tradição de Lisboa" vai ter uma insígnia própria para distinguir as lojas tradicionais de outros estabelecimentos e um roteiro de visitas às lojas integradas no projeto.
Guilherme Pereira, membro do Fórum Cidadania Lx, referiu que existem "dois grandes alertas" para as lojas tradicionais de Lisboa que são "a nova lei do arrendamento e o livre curso das leis de comércio".
Aberta desde 1870, a ourivesaria Sarmento, na Rua Áurea, em Lisboa, é uma das 21 lojas do projeto. O proprietário, Rodrigo Sarmento, afirmou que "cada vez mais lojas emblemáticas de todos os setores comerciais estão a desaparecer na Baixa-Chiado".
"Há autorizações da Câmara de Lisboa para uma quantidade de hotéis e 'hostels' onde essas lojas estavam sediadas", criticou o comerciante.
O proprietário da papelaria "Au Petit Peintre", José Dominguez, fundada a 1909, na Baixa de Lisboa, e que antes era uma vacaria, defendeu que o projeto será "um museu vivo do comércio tradicional de Lisboa".
"Todos nós queremos mais clientes e vender mais, mas isso é comum a todo o comércio ao novo e ao moderno. Este comércio antigo tem realmente coisas para oferecer que o novo não tem, que é a sua história, e é preciso divulga-a e dá-la a conhecer", considerou o dono da Livraria Férin, no Chiado.
O "Círculo das Lojas de Carácter e Tradição de Lisboa" pretende-se que seja "uma estratégia coletiva das lojas de comércio e tradição, complementando-se à estratégia individual de cada um dos seus membros".
"Que os membros sejam um polo de criação de emprego e um fator de preservação do património e da identidade da cidade de Lisboa", lê-se no "site" do projeto.
Para integrar o Círculo, as lojas têm que obedecer a alguns critérios, nomeadamente "ser uma referência histórica, artística, ter um espaço com particularidades arquitetónicas ou decorativas relevantes; vender ou produzir artigos e serviços de excelência, não obrigatoriamente de luxo; manter a mesma atividade desde há pelo menos 50 anos".
SYSM // JPS
Lusa/Fim