A denúncia foi feita à Rádio de Cabo Verde (RCV) pelo historiador e vereador da Câmara Municipal do Tarrafal José Soares e pelo arquiteto Luís Gomes, que suspeitam que os trabalhos em curso terão provocado do desabamento do edifício da antiga secretaria.
"As obras trazem muito emprego e isso é bom para o Tarrafal, mas não têm nada ver com musealização ou restauração do ex-campo de concentração do Tarrafal. As obras - o parque estacionamento, o circuito, entre outras - nunca existiram", afirmou José Soares, autor do livro "O Campo de Concentração do Tarrafal (1936-1954): A origem do quotidiano".
Enquanto José Soares disse que as obras descaracterizam o antigo campo de concentração do Tarrafal, Luís Gomes suspeita-se que os trabalhos terão originado o desabamento do edifício da antiga secretaria.
"Tudo indica que a compactação de um cilindro de alta carga na via ao lado é que fez com que a estrutura caísse. O cilindro que foi compactado aqui não é o mais adequado para um edifício que é frágil", completou Luís Gomes, pedindo esclarecimento sobre obras que decorrem no antigo campo de concentração.
O presidente da Câmara Municipal do Tarrafal, José Pedro Soares, que não se pronunciou sobre o desabamento do edifício da antiga secretaria, disse que as obras decorrem em estreita articulação com o Instituto de Investigação e Património Cultural (IIPC) cabo-verdiano.
Esta polémica à volta do antigo campo de concentração de presos políticos acontece dois dias antes de ser inaugurado o museu, num ato que irá contar com a presença do primeiro-ministro português António Costa, que inicia terça-feira uma visita oficial de dois dias a Cabo Verde.
O anúncio para a transformação em museu do antigo campo de concentração do Tarrafal foi feito em julho do ano passado pelo ministro da Cultura cabo-verdiana, Mário Lúcio Sousa, e pelo então secretário de Estado da Cultura de Portugal, Jorge Barreto Xavier.
O antigo campo de concentração do Tarrafal, situado na localidade de Chão Bom, foi criado pelo regime colonial português em abril de 1936 sob o nome de "Colónia Penal do Tarrafal" e encerrou oficialmente em 1954, embora a maior parte dos então detidos tenha sido libertada em 1945, após o final da Segunda Grande Guerra.
Em junho de 1961, o então ministro do Ultramar português, Adriano Moreira, ordenou a reabertura das instalações sob o nome de "Campo de Trabalho de Chão Bom", desta feita para encarcerar resistentes à guerra colonial em Angola, Guiné-Bissau e Cabo Verde, tendo a segunda fase durado 13 anos, até ao seu encerramento definitivo, a 01 de maio de 1974.
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