Falando sobre a situação socioeconómica e política nas últimas quatro décadas, Pedro Pires considerou que os Países Africanos de Língua Portuguesa (PALOP) "cresceram muito, mudaram muito, para o melhor", até porque, "do ponto de vista de responsabilidade nacional e individual, não se pode comparar o colonialismo com a independência".

Mas nesse percurso, cometeram-se "erros" e permanecem "insuficiências" decorrentes das opções políticas adotadas pelos antigos movimentos independentistas, que hoje governam os PALOP, afirmou Pedro Pires, que em 2011 foi galardoado com o Prémio Ibrahim para a Excelência na Liderança Africana.

"Não sei se há cada vez mais pobreza, o que há são as desigualdades. Acho que a pobreza de hoje não é como de há 40 anos, não é a mesma, é uma outra pobreza e o que nós podemos observar é o aumento das desigualdades, então as políticas devem contribuir para reduzir esse fosso que há entre os mais ricos e os mais pobres", disse Pedro Pires, em entrevista à Agência Lusa em Lisboa.

Em comparação com ex-colónias de outras potências europeias, os PALOP continuam a registar baixas pontuações em diferentes critérios analisados pelo Índice Ibrahim de Boa Governação Africana (IIGA) 2014, que visa informar e ajudar os cidadãos, sociedade civil, parlamentos e governos a medir o progresso em 52 países avaliados.

O melhor entre os países lusófonos é Cabo Verde (2.º), à frente de São Tomé e Príncipe (12.º), Moçambique (22.º), Angola (44.º) e Guiné-Bissau (48.º) em matéria de Segurança e Estado de Direito; Participação e Direitos Humanos; Oportunidade Económica Sustentável; e Desenvolvimento Humano.

No topo dos cinco melhores, segundo o Índice Ibrahim de Boa Governação Africana 2014, mantém-se Ilhas Maurícias (81,7 pontos), seguidas por Cabo Verde (76,6), Botsuana, (76,2), África do Sul (73,3) - que conquistou a quarta posição - às Ilhas Seicheles (73,2).

Em entrevista à Lusa, Pedro Pires considerou que nos cinco Estados africanos colonizadas por Portugal ainda "há erros" que são cometidos a diferentes níveis.

"A obra humana está cheia de erros, há insuficiências", resumiu.

Questionado sobre o que gostava de ver corrigido, o ex-chefe de Estado cabo-verdiano apontou "duas coisas a ver, do lado dos que governam e do lado dos cidadãos".

"De um lado e do outro, acho que há muita coisa por corrigir: melhorar e fortalecer as instituições do Estado, dar mais eficácia e responsabilidade ao cidadão. Portanto, as coisas mudam se cada um de nós mudar e se aplicar na realização de uma visão", afirmou.

Uma visão que, de acordo com Pedro Pires, passa por "olhar para trás, fazer uma apreciação do tempo e do caminho percorrido".

O antigo Presidente de Cabo Verde assinalou, contudo, que "não há dúvida que há a democratização da educação" nos países africanos de língua portuguesa.

"O acesso à educação é muito mais fácil. O que se pode colocar é a qualidade da educação", se for isso, então "vamos insistir na melhoria da qualidade que passa pela melhoria da qualidade dos professores, mas é um longo processo", disse Pedro Pires.

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