A existência de elevados níveis de corrupção no país é reconhecida há vários anos por vários relatórios internacionais - em 2014 o país ficou entre os piores (161.º entre 175) na avaliação da organização não-governamental Transparency International.
O tema já tinha sido invocado em agosto por José Mário Vaz quando demitiu o Governo e o chefe de Estado guineense voltou hoje ao assunto na abertura do ano legislativo 2015/2016 na Assembleia Nacional Popular.
Sem se referir a casos em concreto, o Presidente guineense disse que apesar das suas chamadas de atenção continuam a persistir sinais de corrupção por parte de responsáveis ou servidores do Estado.
José Mário Vaz apontou o dedo aos membros do Governo por si demitido no mês de agosto, mas sem apontar nomes.
O Presidente guineense afirmou ter chamado a atenção sobre a necessidade de haver rigor na execução do Orçamento Geral do Estado, mas, mesmo assim, disse que continua a haver derrapagens nas contas públicas, despesas não tituladas e sinais de ostentação de riqueza.
"São várias as vozes, desde o cidadão comum e até algumas figuras da nossa praça, que se ergueram para denunciar derrapagens na execução orçamental e multiplicação de despesas não tituladas, bem como atos de corrupção" em vários setores económicos, sublinhou Mário Vaz.
O Presidente guineense observou, contudo, que as suas denúncias não foram levadas a sério por certos setores do país, que as tomaram como "rumores, invenções, calúnias e até inveja".
"Diariamente somos obrigados a conviver, impotentes, perante claros e evidentes sinais exteriores de riqueza incompatíveis com as conhecidas fontes de rendimentos de alguns servidores de Estado em funções há bem pouco tempo", notou José Mário Vaz merecendo palmas de alguns deputados.
Entre os pontos de agenda para a discussão na sessão hoje iniciada, o parlamento vai analisar o relatório da comissão de inquérito às denúncias de corrupção feitas pelo Presidente guineense, em agosto.
Fonte da comissão disse à Lusa que, apesar de todas as diligências, não foi possível obter do chefe de Estado elementos que confirmassem as denúncias por si feitas contra o Governo demitido em 12 de agosto passado.
José Mário Vaz diz-se disponível para colaborar com todas as comissões criadas pelo parlamento, "desde que revelem níveis de seriedade" nas suas ações, referiu.
Sobre a ação do executivo, o chefe de Estado deixou perguntas aos parlamentares sobre o que diz ser o "estado de coisas", questões para as quais as "entidades responsáveis não têm dado resposta", nomeadamente sobre a falta de pescado no mercado nacional, delapidação de recursos naturais e obras de estradas inacabadas.
Para "dar uma resposta mais eficaz" aos anseios do povo disse ter decidido mudar o Procurador-Geral da República e o presidente do Tribunal de Contas para que ajudem a clarificar os "cancros que continuam a minar" o funcionamento da justiça no país.
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