A posição foi assumida hoje pelo diretor do CEIC, Manuel Alves da Rocha, na apresentação, em Luanda, do relatório económico anual (2014) da instituição, referindo-se à taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) angolano e ao aumento da população.
Angola é o segundo maior produtor de petróleo da África subsariana, com cerca de 1,8 milhões de barris de petróleo por dia, e contava em 2014 com mais de 24,3 milhões de habitantes, devendo registar um crescimento acima de 800 mil pessoas este ano.
Conjugando os efeitos do primeiro recenseamento da população, realizado em Angola em 2014, com a crise da cotação internacional do barril de crude, o Produto Interno Bruto por habitante deverá descer em 2015 para 457.954 kwanzas (3.460 euros), face aos 521.389 kwanzas (3.940 euros) do ano anterior, refere o documento.
"As projeções feitas até 2017 dão conta de uma taxa média de crescimento do PIB de 3,5% ao ano. O que significa que, se descontarmos o crescimento da população, não fica nada para distribuir", enfatizou Alves da Rocha, acrescentando que nas contas do Executivo Angola terá fechado 2014 com um crescimento da riqueza de 4,2%.
Para o economista angolano, o país mantém "graves problemas de distribuição do rendimento", não sendo "compaginável" que face às "riquezas" de Angola, 60% da população sobreviva com dois dólares por dia. Admitiu que o Governo tem políticas "bem pensadas" nesta matéria, mas a "capacidade de as implementar é fraca".
O relatório económico anual hoje apresentado pelo CEIC, numa conferência internacional, reconhece que "no essencial" a estrutura da economia nacional em 2014 era igual à de 2002, aquando do fim da guerra.
Além disso, Angola é o segundo país do mundo com o maior índice (0,951) de concentração de exportações (no petróleo) - apenas superado pelo Iraque, com 0,965 -, com os efeitos da atual crise do petróleo a fazerem-se sentir em toda a economia nacional.
Arábia Saudita, Rússia, Emirados Árabes Unidos, Kwuait e Noruega "exportam mais petróleo do que Angola", mas "têm um índice de concentração das exportações bem menor", mostrando que "além do petróleo estes países exportam outros produtos e serviços", observa o relatório.
"Não temos capacidade de resistência, porque não temos estrutura económica capaz. É urgente diversificar a economia", sublinhou por seu turno Alves da Rocha, criticando a utilização generalizada deste objetivo, sem ações concretas, enquanto o petróleo continua a representar mais de 90% das exportações nacionais.
Indústrias do couro, metais, vestuário, têxtil, produtos alimentares e bebidas ou papel são algumas atividades que o relatório do CEIC identifica como potenciais aceleradoras da diversificação da economia nacional.
Outra das observações é sobre a adesão de Angola à zona de livre comércio dos países da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC, da sigla inglesa), prevista para 2017, apesar de estar "muito mal preparado", face aos baixos níveis de produção e de competitividade nacional, tendo em conta a forte concorrência que enfrentará e a ausência de tarifas aduaneiras.
"Para que os países possam ser capazes de partilhar vantagens da criação de zonas económicas alargadas têm de ter competitividade. Se não tiverem, os efeitos positivos tendem a polarizar-se nas economias mais competitivas", salientou Alves da Rocha, apontando como exemplo os vizinhos África do Sul e Namíbia.
Os 93 mil milhões de dólares investidos depois de 2002 na construção, reabilitação e modernização das infraestruturas nacionais "não evitaram que Angola ocupasse a última posição" entre os principais parceiros da SADC, neste item. "Uma séria deficiência, que constrange o financiamento mais eficiente da atividade económica em qualquer país, tornado mais elevados os custos dos bens e serviços", conclui o relatório.
PVJ// APN
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