Juan Branco, advogado franco-espanhol de 35 anos, conhecido pela defesa de Julian Assange, fundador da WikiLeaks, e pela forte oposição a Emmanuel Macron, presidente francês, é acusado de vários crimes de violência sexual, incluindo violação.

Esta quinta-feira, o jornal francês Libération publicou uma investigação em que quatro mulheres dizem ter sido agredidas sexualmente pelo advogado e algumas falam pela primeira vez dos crimes.

Três delas avançaram com processos em tribunal contra Juan Branco e uma quarta, cujo testemunho é inédito, preferiu não o fazer. Os casos remontam aos anos 2017 e 2018. Dois dos testemunhos relatam crimes de violação – um deles por sexo sem consentimento após ingestão de bebidas alcoólicas misturadas com comprimidos analgésicos à base de ópio; outro por retirada do preservativo durante o ato sexual sem consentimento, segundo conta o jornal Libération.

Suspenso por violação do sigilo da investigação

As queixas formais contra o advogado, filho do produtor de cinema português Paulo Branco e de uma psicanalista espanhola, levaram a que fosse encetada uma investigação com relatos de três mulheres.

Em 2021, o advogado Juan Branco foi indiciado por violação por um juiz de instrução de Paris e foi colocado sob supervisão judicial, segundo a agência de informação AFP. Numa longa publicação na sua página de Facebook, negou qualquer relacionamento forçado.

Mas em meados de 2023, o advogado viria a ser novamente alvo de investigação judicial pelo tribunal judicial de Paris, por “divulgação a terceiros de reprodução de documento ou ato processual e ameaça ou ato de intimidação”, relacionadas com um conjunto de publicações que fez na conta pessoal da X, que tiveram mais de um milhão de visualizações e em que expôs extratos do processo penal que lhe dizia respeito, além de nomes e detalhes sobre as denunciantes, e fotografias em que surgem nuas.

As publicações valeram-lhe uma suspensão de atividade por três anos, pronunciada em 8 de outubro deste ano, pelo conselho da Ordem dos Advogados de Paris.

O Expresso tentou contactar Juan Branco mas não obteve resposta até ao momento de publicação deste texto.

O seu percurso começou a ser notado na política e no activismo. Foi especialmente vocal em relação às mortes no Mediterrâneo, sobre as quais chegou a afirmar, em entrevista ao Expresso, em 2019, que a União Europeia é “conscientemente” responsável pela morte de pelo menos “14 mil pessoas”.

Chegou a ser candidato nas eleições legislativas pelo partido França Insubmissa, em 2017.

Esteve também envolvido no movimento dos coletes amarelos e representou como advogado alguns dos seus membros pro bono. Desde então, tem sido visto como uma espécie de “porta-estandarte” da luta contra Emmanuel Macron, que “aos seus olhos representa um regime adquirido pelos ricos graças à cumplicidade dos órgãos de comunicação”, diz o Libération.

O seu mais recente fenómeno literário “Crépuscule”, o segundo livro assumidamente contra Macron (sobre o qual fala AQUI em entrevista ao Expresso), é representativo disso mesmo. No livro, que chegou a estar simultaneamente em primeiro lugar tanto nas vendas em livrarias como nas compras online, defende um boicote aos média tradicionais franceses por estes representarem, a seu ver, os interesses das oligarquias.