"Prevê-se que o projeto [de financiamento] beneficie 16.750 pessoas vulneráveis que fugiram à violência armada na província", sobretudo nos distritos de Quissanga, Mocímboa da Praia e Palma, entre os mais atingidos pelas incursões rebeldes que desde 2017 têm assolado aquela província do norte de Moçambique, afirmou Keiji Hamada, embaixador do Japão, durante a cerimónia de lançamento do projeto de apoio aos meios de subsistência para retornados na província de Cabo Delgado.
O apoio de Japão visa garantir que as pessoas tenham novos meios de subsistência baseados na agricultura e melhorar a segurança alimentar e nutricional e será implementado por três agências das Nações Unidas, nomeadamente a Organização Internacional para as Migrações (OIM), a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) e o Alto-Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).
"O apoio do Japão permite abordar diretamente as necessidades urgentes dos retornados em Cabo Delgado, com o objetivo de reconstruir e melhorar os meios de subsistência baseados na agricultura, com enfoque na produção de culturas e pescas, melhorando a segurança alimentar e nutricional destas comunidades, especialmente entre mulheres e crianças", destacou o diplomata.
Para o representante da FAO em Moçambique, José Fernandez, Cabo Delgado enfrenta "desafios complexos", tanto de conflitos, como de eventos climáticos, pelo que o apoio de Japão vai "ajudar a reconstruir e melhorar os meios de subsistência, concentrando-se na segurança alimentar e nutricional destas comunidades de forma sustentável".
"A OIM embarca neste projeto que visa apoiar pessoas de forma a fortalecer a sua resiliência e promover soluções duradouras, a paz para os retornados e comunidades de acolhimento em áreas de conflito", acrescentou a chefe da Missão da OIM, Laura Tomm-Bonde.
A província de Cabo Delgado enfrenta há seis anos uma insurgência armada com alguns ataques reclamados pelo grupo extremista Estado Islâmico. Depois de uma ligeira acalmia em 2023, estes ataques multiplicaram-se nas últimas semanas, criando cerca de 100 mil deslocados só em fevereiro, além de um rasto de destruição, morte e famílias desencontradas.
Esta insurgência levou a uma resposta militar desde julho de 2021, com o apoio do Ruanda e da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral (SADC), libertando distritos junto aos projetos de gás, mas surgiram novas vagas de ataques a sul da região.
Desde 2017, o conflito já fez mais de milhão de deslocados, de acordo com as agências das Nações Unidas, e cerca de quatro mil mortes, indicou o Projeto de Localização de Conflitos Armados e Dados de Eventos.
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