O Presidente da Tunísia, Kaïs Saïed, obteve mais de 89% dos votos nas eleições presidenciais realizadas este domingo no país, de acordo com uma sondagem à boca das urnas divulgada pela estação nacional de televisão, Wataniya.
A sondagem, conduzida pelo instituto Sigma Conseil, indica que Kaïs Saïed, de 66 anos, venceu de forma expressiva o industrial liberal Ayachi Zammel, que obteve apenas 6,9% dos votos, e o antigo deputado pan-árabe de esquerda Zouhair Maghzaoui, que ficou em último lugar com 3,9%.
As eleições registaram, no entanto, uma baixa taxa de participação, de 27,7%, contra 45% em 2019, segundo dados oficiais.
Até às 13h00 (mesma hora em Lisboa), a participação era de 14,16%, refletindo o descontentamento popular já demonstrado em atos eleitorais anteriores.
Em 2019, a participação nas presidenciais foi de 48,9% na primeira volta e 55% na segunda. Os números foram ainda mais baixos no ano passado, quando apenas 11,66% dos nove milhões de eleitores tunisinos votaram nas eleições locais.
Saïed justificou a fraca participação nas eleições autárquicas com a "rejeição" do funcionamento do anterior parlamento, cujas competências assumiu em 2021, decisão que os seus críticos classificaram como uma deriva autoritária.
A sua reeleição este domingo era esperada: dos 17 potenciais candidatos que apresentaram documentação, apenas três foram aprovados pela comissão eleitoral do país, incluindo o chefe de Estado e um adversário que está preso, escreveu o Expresso. A oposição e grupos da sociedade civil alertaram para a forte possibilidade de as eleições serem fraudulentas e visarem apenas manter Saïed no poder.
Especializado em Direito Constitucional e jurista de profissão, Saïed emergiu em 2019 como outsider da política, concorreu como independente e ganhou as eleições. Sem filiação partidária, continua a prometer uma “Nova Tunísia”, mas esse sonho tem-se esfumado a grande velocidade. Em meados de 2021, declarou o estado de emergência, demitiu o primeiro-ministro, suspendeu o Parlamento e recauchutou a Constituição à sua medida.
A Tunísia, considerada um dos poucos exemplos de sucesso democrático após a Primavera Árabe de 2011, tem vindo a sofrer nos últimos cinco anos um retrocesso nos direitos e liberdades.
Esse retrocesso tem sido atribuído a Kaïs Saïed, levando críticos a compará-lo ao ex-Presidente Zine el Abidine Ben Ali, que governou o país de 1987 a 2011, e cujo longo mandato terminou precisamente com aquela revolução.