Milhares de georgianos voltaram esta sexta-feira a manifestar-se no centro de Tbilissi, numa resposta ao apelo da oposição pró-europeia e após a detenção de cerca de 40 manifestantes críticos do Governo, acusado de autoritarismo pró-russo.

O clima de contestação neste país do Cáucaso tem crescido desde as eleições legislativas de 26 de outubro, ganhas pelo partido no poder, o Sonho Georgiano, mas contestadas pela oposição pró-ocidental e pela Presidente do país, Salome Zurabishvili, que tem vindo a denunciar uma fraude eleitoral.

Apesar de uma forte presença policial, vários milhares de pessoas reuniram-se em frente ao edifício do parlamento esta noite, bloqueando o trânsito na principal avenida de Tbilissi.

"O autoproclamado Governo do Sonho Georgiano está a fazer tudo o que pode para destruir as hipóteses de a Geórgia aderir à União Europeia (UE)", declarou Laura Kekelidze, uma professora de 39 anos presente no protesto, citada pela agência noticiosa AFP.

A manifestante realçou que um "regime autoritário é incompatível com a adesão à UE". "Mas os georgianos fazem parte da Europa, e é por isso que estamos nas ruas", justificou.

Processo congelado na UE

A oposição acusa o atual Governo da antiga república soviética de se desviar da ambição de aderir à UE e de se querer aproximar de Moscovo.

A Geórgia obteve oficialmente o estatuto de candidato ao bloco europeu em dezembro de 2023, mas Bruxelas congelou o processo, acusando o Governo de recuar em termos de democracia.

Na quinta-feira, o primeiro-ministro da Geórgia, Irakli Kobajidze, anunciou a suspensão "até ao final de 2028" das negociações de adesão à UE.

"Decidimos não colocar na ordem do dia a questão da abertura de negociações com a UE até ao final de 2028. Além disso, até ao final de 2028, também rejeitamos quaisquer subsídios orçamentais da UE", afirmou Kobajidze, citado pela imprensa georgiana.

Depois desta decisão, milhares de apoiantes da oposição pró-europeia saíram à rua em protesto, reunindo-se na capital Tbilissi e noutras cidades durante a noite.

Na quinta-feira à noite e na sexta-feira de manhã, a polícia anti-motim disparou balas de borracha e utilizou gás lacrimogéneo e canhões de água, agredindo manifestantes e jornalistas à porta do parlamento, segundo relatou um jornalista da AFP presente no local.

A Comissão Europeia suspendeu "de facto" o processo de adesão da Geórgia devido a recentes medidas tomadas por Tbilissi - como uma controversa lei sobre agentes estrangeiros inspirada na Rússia e uma lei contra os interesses da comunidade LGBT (lésbicas, gays, bissexuais e trans) - que suscitaram preocupação em Bruxelas sobre o rumo antidemocrático do país.

A oposição, incluindo a presidente do país, Salome Zurabishvili, denunciou uma fraude eleitoral e a UE anunciou que enviará uma missão técnica para avaliar as irregularidades detetadas pelos observadores internacionais.

Zurabishvili exigiu entretanto a convocação de novas eleições legislativas.

O Parlamento Europeu tinha também apelado na quinta-feira à repetição das eleições legislativas na Geórgia, no prazo de um ano, rejeitando os resultados "comprometidos por irregularidades" naquele país.

A aproximação do Governo da Geórgia à Rússia liderada por Vladimir Putin impossibilita "qualquer avanço no sentido da adesão à UE", afirmaram os eurodeputados.