Para tentar pôr fim à crise política no país, agravada pela queda do Governo de Michel Barnier a 04 de dezembro após a aprovação de uma moção de censura, o centrista François Bayrou convocou reuniões institucionais no Palácio Matignon.

Durante o dia de hoje, Bayrou recebeu o presidente do Tribunal de Contas e antigo ministro socialista Pierre Moscovici, a presidente da Assembleia Nacional francesa, Yaël Braun-Pivet, e também é esperado que reúna com o presidente do Senado, Gérard Larcher.

Esta ronda de consultas permitirá ao veterano político, de 73 anos, ter uma primeira impressão da situação do país antes de iniciar os seus encontros com os principais grupos políticos da Assembleia Nacional, que serão complicados, já que muitos se recusam a fazer parte do Governo.

Na sexta-feira à noite, na sequência da nomeação de Bayrou, a agência de notação financeira Moody's desceu um nível da dívida soberana da França, que vive num clima de incerteza e fragmentação política.

O anúncio da Moody's fez soar o alarme no Matignon, com François Bayrou a convocar hoje o governador do Banco de França, François Villeroy de Galhau para discutir possíveis consequências.

A longo prazo, esta descida pode afetar as finanças públicas do país, com os investidores na dívida francesa a exigirem uma taxa de juro mais elevada para emprestar dinheiro.

A Moody's considera que "é altamente improvável que o próximo governo reduza de forma sustentável a dimensão dos défices orçamentais", com o ministro das Finanças demissionário, Antoine Armand, a referir que a nomeação e a "determinação reafirmada de reduzir o défice" constituíam "uma resposta explícita" às preocupações da agência.

Nas outras duas grandes agências de notação mundiais, Standard & Poor's e Fitch, a notação da dívida soberana está ao mesmo nível que a da Moody's. As três agências consideram que a fiabilidade financeira do país é "elevada", embora um pouco aquém do máximo.

A Assembleia Nacional, muito fragmentada e sem maioria, decidirá o futuro de Bayrou, que está encarregue de formar um governo e construir uma maioria relativa estável para não sofrer uma moção de censura apresentada pela esquerda e apoiada pela extrema-direita, como aconteceu com o seu antecessor durante a durante a apresentação do orçamento para 2025.

Bayrou, cujo apoio a Macron nas eleições de 2017 foi crucial para a sua chegada à Presidência francesa, terá de lidar com um 'puzzle' parlamentar composto por três blocos que são, em princípio, irreconciliáveis: a coligação de esquerda, com uma ligeira maioria em número de assentos, o centro-macronista e a extrema-direita de Marine Le Pen, que obteve o maior número de votos (11 milhões), mas foi penalizada em assentos pelo sistema eleitoral francês.

Até agora, o único grupo que prometeu uma moção de censura 'a priori' foi o grupo de esquerda radical França Insubmissa (LFI), a principal força da aliança da Nova Frente Popular (NFP).

Os socialistas e os ecologistas, parceiros no NFP, afirmaram que vão esperar para ver o rumo do novo governo, uma posição partilhada por Marine Le Pen, que já avisou que não exclui a possibilidade de apoiar uma nova moção.

Entre as prioridades de Bayrou, que na tomada de posse falou de "um caminho de reconciliação" entre os franceses, está a aprovação do orçamento para 2025.

Além disso, o novo chefe de Governo tem também de lidar com o ciclone no arquipélago de Mayotte, território ultramarino francês no Oceano Índico, que até agora causou pelo menos dois mortos.

 

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