Os hindus veneram milhares de Deuses e nem todos são representados com forma humana. No Templo Radha Krishna, onde estivemos em reportagem, foi dada especial relevância a três Divindades.
"São três Deuses principais, que são Brahma, Vishnu e Shiva (...) o Brahma é criador, o Visnhu é conservador, portanto conserva a nossa vida e gere este universo todo, e no final da vida vamos para o Shiva, que é o renovador", explica Dolar Modi, membro da Comunidade Hindu de Portugal.
De acordo com os últimos Censos (2021), mais de 19 mil pessoas dizem ser hindus a viver em Portugal. Inseridos na comunidade Hindu e representando diferentes gerações, Dolar Modi (72 anos) e Ainoa Dipac (21 anos) explicam que há uma data que, pela forma como é passada no Hinduísmo, pode ser comparada ao Natal.
“Neste momento estamos em 2081”
"No Diwali nós decoramos as nossas casas, metemos velas (...) estamos a celebrar a vinda de Ram, Sita e Lakshman (...) depois de um exílio de 14 anos numa floresta, ou seja 14 anos depois estes três Deuses estão a voltar às suas casas e, por isso, os habitantes da cidade iluminam-nas com imensas velas, com imensa luz (...) juntamos as nossas famílias, fazemos almoços, jantares e depois no dia a seguir celebra-se então o nosso ano novo, neste momento estamos em 2081, por isso não é bem o nosso Natal, mas é uma celebração assim de final de ano em que temos um dia muito composto e muito familiar", diz Ainoa Dipac, da Comissão de Jovens da Comunidade Hindu de Portugal.
"Na tradição hindu na altura do Diwali (...) nós temos troca de prendas, tradicionalmente nós trocamos doces e especiarias entre os familiares e amigos", refere Dolar Modi.
As trocas e o convívio familiar começam no Diwali, que é normalmente celebrado entre outubro e novembro, mas estando em Portugal, as festas da comunidade podem ser alargadas. Num diálogo, lado a lado, Dolar e Ainoa, com mais de 50 anos de diferença, explanam como vivem esta época do ano.
“Tenho dois Natais”
"É o que eu digo sempre aos meus amigos, tenho os dois Natais (...) recebo prendas nos dois, dou prendas nos dois (...) somos hindus mas é em Portugal que fazemos a nossa vida (...) no dia 24 e dia 25 começo logo a mandar mensagens a todos os meus amigos", diz Ainoa.
"Depois das férias de Natal as nossas crianças estão na escola também, então naturalmente outros colegas vão perguntar, por curiosidade, o que é que tu recebeste nas prendas, para que eles não fiquem acanhados ou sem resposta também temos de dar essas prendas às crianças", conta Dolar.
"Tenho um amigo do meu pai que é católico (...) nós passávamos sempre o Natal com ele (...) e era mesmo um Natal à grande e à portuguesa, nós tínhamos uma mesa de consoada cheia, cheia de comida (...) hoje em dia só já celebramos os quatro em casa, fazemos um jantar e é juntar assim a família e a troca de prendas (...) dia 25 é assim um dia muito mais descontraído, para ficar em casa em família, ver um filmezinho", recorda Ainoa.
"Aproveitamos a oportunidade para juntar a família, que às vezes por motivos profissionais não tivemos tempo (...) é uma oportunidade agora na altura de Natal para celebrar o Natal e o resto do Diwali que ficou por conviver com a família - portanto juntamos a família para um jantar e para um almoço", responde Dolar.
“Krishna nasceu numa prisão, ao contrário de Jesus que nasceu numa manjedoura”
Para além do Diwali, uma outra celebração hindu pode ter semelhanças com o Cristianismo: o Janmashtami (ocorre normalmente em agosto), que diz respeito ao nascimento do Deus Krishna.
"A história de Krishna pode ser comparada a Jesus e em relação ao Natal (...) o Janmashtami celebra o nascimento do Deus Krishna, em que nós aqui no nosso templo trazemos um bebé recém-nascido e celebramos como se ele tivesse acabado de nascer à meia-noite e temos pessoas a tocar instrumentos e estamos todos a dançar, são distribuídos muitos doces e há toda uma celebração em volta do seu nascimento (...) Krishna nasceu numa prisão, ao contrário de Jesus que nasceu numa manjedoura (...) ambos morreram de formas muito desafiantes", sublinha Ainoa.
O Hinduísmo acredita em reencarnações até ser atingido o Moksha - a libertação da alma. O processo é baseado no Karma (resumidamente, as ações têm consequências).