Investigadores identificaram uma ligação entre o vírus herpes simplex-1 (HSV-1) e a doença de Alzheimer, apontando para o papel das infeções virais no desenvolvimento da doença. O estudo também revelou um papel duplo da proteína tau, que inicialmente pode proteger o cérebro, mas, com o tempo, contribui para a neurodegeneração.

Uma investigação publicada na Cell Reports revela uma ligação entre a doença de Alzheimer e o vírus Herpes Simplex-1 (HSV-1). A equipa de cientistas da Universidade de Pittsburgh identificou 19 proteínas associadas ao vírus herpes simplex HSV-1 nos cérebros de pacientes com Alzheimer.

Surpreendentemente, estas proteínas virais estavam ligadas à proteína tau, um marcador da doença de Alzheimer, mas não às placas amiloides, outro elemento clássico da patologia.

Esta descoberta reforça a teoria de que infeções virais podem desempenhar um papel significativo na neurodegeneração.

“O nosso estudo desafia a visão convencional da tau como exclusivamente prejudicial, mostrando que pode atuar inicialmente como parte da defesa imunitária do cérebro. Estas descobertas enfatizam a complexa interação entre infeções, respostas imunitárias e neurodegeneração, oferecendo uma nova perspetiva e potenciais novos alvos para o desenvolvimento terapêutico", disse o autor principal Or Shemesh.

Duplo papel da proteína tau

O estudo revelou que a proteína tau, que normalmente provoca danos cerebrais no Alzheimer, pode inicialmente proteger o cérebro contra o HSV-1.

Experiências em minicérebros artificiais demonstraram que, quando infectado com HSV-1, o cérebro ativa a tau para conter a propagação do vírus, protegendo as células e reduzindo a morte celular.

No entanto, à medida que a doença avança, esse mesmo mecanismo de defesa parece agravar os danos cerebrais, contribuindo para a neurodegeneração.

O processo está intimamente ligado a uma via imunitária conhecida como cGAS-STING, que também influencia as alterações da tau observadas nos cérebros afetados.

A verde estão proteínas do vírus do herpes. A vermelho - tau de Alzheimer. À direita, as duas imagens sobrepostas.
A verde estão proteínas do vírus do herpes. A vermelho - tau de Alzheimer. À direita, as duas imagens sobrepostas. Shemesh Lab

O estudo identificou a proteína ICP27 do HSV-1, cuja atividade aumenta com a progressão da doença. Esta proteína interage com a tau, reforçando a hipótese de que o HSV-1 pode influenciar diretamente as alterações cerebrais características do Alzheimer.

Potenciais implicações terapêuticas

As descobertas abrem novas possibilidades para tratamentos inovadores. Ao focar-se na atividade viral do HSV-1 ou ao regular a resposta imunitária do cérebro, pode ser possível retardar ou mesmo interromper a progressão da doença de Alzheimer, segundo o investigador principal, Dr. Or Shemesh,

"O nosso estudo desafia a visão convencional da tau como exclusivamente prejudicial, mostrando que ela pode atuar inicialmente como parte da defesa imunitária do cérebro. Estas descobertas oferecem novos alvos terapêuticos para desenvolver tratamentos eficazes".

Uma avanço mas mais estudos são necessários

As novas descobertas complementam e expandem investigações anteriores têm explorado a ligação entre infeções virais, especialmente o herpes simplex-1 (HSV-1), e a doença de Alzheimer, sugerindo que o papel dos vírus pode ser mais significativo do que se pensava inicialmente.

Embora sejam necessários mais estudos para compreender melhor como o HSV-1 e a tau interagem ao longo da doença, este trabalho representa um avanço, nomeadamente no desenvolvimento de estratégias para diagnosticar e tratar infeções virais no cérebro.