Qual a prevalência do cancro da mama nos homens e nos idosos?

Embora seja mais comum nas mulheres, o cancro da mama pode também afetar os homens — representa cerca de 1% de todos os casos de cancro da mama. A maior parte dos casos de cancro da mama masculino ocorre justamente após os 60 anos. No entanto, por desconhecimento e pela falsa ideia de que é uma doença só de mulheres, o diagnóstico tende a ser mais tardio. É fundamental alertar que os homens, sobretudo os mais velhos, também devem estar atentos a sinais suspeitos.

A que sintomas devem estar atentos?

Tanto homens como mulheres, e sobretudo os mais velhos, devem estar atentos a qualquer alteração mamária: nódulos, inchaços, alterações da pele ou do mamilo, secreções ou dores persistentes. Nos homens, pode manifestar-se como um caroço duro por detrás do mamilo. Em todos os casos, o diagnóstico precoce faz uma grande diferença.

Em termos de rastreio, o que deve mudar, para que estes dois grupos populacionais possam também ser abrangidos?

O rastreio do cancro da mama é maioritariamente direcionado às mulheres entre os 45 e os 74 anos. Quanto aos homens, apesar de não se justificar um rastreio populacional, é fundamental promover a literacia em saúde e sensibilizar os profissionais para avaliar casos com fatores de risco, como a história familiar ou a presença de mutações genéticas (ex: BRCA).

“Apesar de tudo, ainda existem preconceitos que levam a subtratar ou a desvalorizar os sintomas nos doentes idosos, mesmo quando poderiam beneficiar de tratamentos”

Os tratamentos na terceira idade são semelhantes aos aplicados a alguém mais novo?

A abordagem terapêutica deve ser sempre personalizada. A idade cronológica, por si só, não deve ditar o tratamento. Há idosos com excelente estado funcional e poucos problemas de saúde, que toleram bem tratamentos como cirurgia, quimioterapia ou tratamento hormonal. As decisões devem ter em conta o estado geral, a autonomia e as preferências do doente. Felizmente, hoje temos terapias mais seguras e menos agressivas, que se ajustam bem a toda a população.

Neste campo, considera que ainda existe idadismo por parte dos profissionais de saúde?

Acredito que exista cada vez menos, pelo menos na classe dos oncologistas e cirurgiões. Apesar de tudo, ainda existem preconceitos que levam a subtratar ou a desvalorizar os sintomas nos doentes idosos, mesmo quando poderiam beneficiar de tratamentos. A medicina moderna exige uma avaliação personalizada e integrada da pessoa idosa. Combatemos o idadismo com conhecimento, empatia e escuta ativa e é um dever ético fazê-lo.

O cancro afeta as mais diversas esferas da vida. Em termos de sexualidade, que desafios se enfrentam?

A sexualidade pode ser profundamente afetada pelo cancro, nomeadamente pelo cancro da mama, quer nos homens quer nas mulheres, e em qualquer idade. Alterações físicas, efeitos hormonais ou mudanças psicológicas são comuns. Nos idosos, por exemplo, muitas vezes este tema é negligenciado, por se presumir, erradamente, que a sexualidade deixa de ter importância.

“Para os homens e os idosos, é crucial combater o estigma e o medo. A mensagem deve ser clara: o cancro da mama tem tratamento e, em muitos casos, pode ser curado ou controlado por muitos anos”

E que cuidados ou apoio é necessário também no campo da sexualidade?

É essencial normalizar a conversa sobre sexualidade nas consultas, por vezes puxar o tema e deixar o/a doente confortável para falar com o médico ou o enfermeiro sobre o tema. Os profissionais de saúde devem estar atentos e criar espaço seguro para abordar o tema. O apoio pode incluir desde aconselhamento psicológico até orientação sobre estratégias ou produtos que ajudem a recuperar a intimidade. O cuidado oncológico deve incluir o bem-estar emocional e sexual.

A palavra cancro assusta sempre, por estar associada a morte. No caso dos homens e dos idosos, essa mensagem também deve ser contrariada face às inovações terapêuticas nos últimos anos?

Sem dúvida. Vivemos uma verdadeira revolução no tratamento do cancro da mama, com terapias mais eficazes, menos tóxicas e mais personalizadas. O diagnóstico precoce e os avanços científicos permitem hoje uma vida longa e com qualidade, mesmo após a doença metastática. Para os homens e os idosos, é crucial combater o estigma e o medo. A mensagem deve ser clara: o cancro da mama tem tratamento e, em muitos casos, pode ser curado ou controlado por muitos anos, independentemente do género e da idade ao diagnóstico.

Maria João Garcia

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