Marcelo Rebelo de Sousa pediu “bom senso” e “solidariedade institucional” entre o Presidente da República e o primeiro-ministro e defendeu que Portugal não pode perder a liberdade nem a democracia, mas avisa que há um ciclo que se fechou. Numa mensagem de ano novo para os portugueses, o Presidente da República defendeu que, após os 50 anos do 25 de Abril, é preciso não repetir o passado e solucionar os problemas que a democracia “não conseguiu resolver”.
“Não queremos perder nem a liberdade nem a democracia, mas um ciclo de 50 anos fechou-se", declarou o Chefe de Estado. “Invocar Abril é olhar para o futuro, não é repetir o passado.”
O Presidente da República considera que há “problemas de fundo” no país que a democracia não foi capaz de solucionar – como a pobreza - e que é preciso renovar o regime democrático para lhes responder, sublinhando a "universalidade" dos portugueses.
Nesse sentido, Marcelo Rebelo de Sousa lembrou as eleições que Portugal terá pela frente este ano – desde logo, as do poder local – para exaltar o povo como “juiz supremo”, lembrando que, em 1982, os militares tiveram a “coragem” de devolver o “poder pleno” à população, já após a “vitória dos moderados” em novembro de 1975.
“Bom senso” e solidariedade entre Belém e São Bento
Até lá, sublinhou o Chefe de Estado, num recado para São Bento, há que manter “o bom senso” e a “solidariedade institucional” entre os órgãos de soberania – que, nota o Presidente da República, permitiram, este ano, a aprovação do Orçamento do Estado – para garantir a “estabilidade” do país e o “respeito, cá dentro e lá fora”.
A cooperação deve ser estreita, inclusive, entre o Presidente da República e o primeiro-ministro, sublinha Marcelo Rebelo de Sousa.
O PRR e as contas certas
E continuando a senda de recados para o Executivo, o Chefe de Estado lembra que é preciso aproveitar os milhões de euros do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) que têm de ser gastos durante os próximos dois anos. E também que as contas certas deixadas pelos governos anteriores devem “consolidar-se e acentuar-se" nos próximos tempos.
Ainda a nível nacional, defendeu a necessidade de mais igualdade e melhor educação, saúde e habitação, ao mesmo tempo que se aumenta a qualificação, a inovação e a competitividade.
UE: aliança com EUA e peso militar próprio
Já no foro internacional, Marcelo Rebelo de Sousa constatou que, na viragem para o novo, as guerras continuam e que os resultados das eleições nos Estados Unidos da América (EUA) ditaram quem pode decidir que tipo de paz quer, justa ou injusta.
Ainda assim, o Presidente da República considera que os EUA são um aliado importante e que a União Europeia tudo deve fazer para mantê-lo, sobretudo numa altura em que, pela Europa fora, “economias fortes continuam a descer e governos dessas economias a cair”.
“A UE tem de fazer tudo pela aliança com os EUA”, frisou Marcelo Rebelo de Sousa, notando que “menos aliança entre EUA e Europa é melhor para Rússia e China”.
Ainda assim, ressalva, a UE não pode “contar só com isso”. Deve, segundo o Presidente da República, manter-se unida, ganhar “peso militar próprio”, recuperar economicamente, corrigir “atrasos” e reformar “fragilizados sistemas económicos, políticos e sociais”.
“Tudo difícil, mas tudo indispensável para a UE se afirmar como potência global”, declarou.