"Eu não olho para um Azagaia como uma pessoa que sentia essa pressão diretamente", porque era "uma pessoa que tinha vontade de dizer [a sua mensagem] para as pessoas que não ouviam, que o percebiam", por beneficiarem da sua ligação ao poder, afirmou DJ Sidney, em declarações à Lusa.
Os vários anos de colaboração com o falecido artista mostraram ao agente um rapper multifacetado, com uma "capacidade e talento incrível", mas, ao mesmo tempo, um assumido "cidadão normal", que "andava de autocarro", um meio que em Moçambique é mais usado por pobres e anónimos, dadas as condições deploráveis do transporte público no país.
Apesar do tom crítico e mordaz, "não olhava para o Azagaia como uma pessoa que tivesse medo e andasse deprimido", assinalou, lembrando ainda a "inteligência e enorme capacidade" do cantor.
Para o agente artístico, responsável pela gravação de 64 álbuns de hip-hop em Moçambique, nem as fases de reclusão autoimposta de Azagaia estiveram relacionadas com o assédio das autoridades, mas com o "sobe e desce" de viver da arte em África.
Porque não é possível encontrar uma "réplica de Azagaia" em Moçambique, DJ Sidney dá quase como morto o projeto de um novo álbum do rapper, que já tinha nome: "Pantera".
Era um trabalho que seria feito em dueto com outra referência do rap moçambicano, Duas Caras.
"Pantera" era uma cedência de Azagaia, que aceitou que não fosse uma peça sobre política ou "contra o Governo", porque não é o território de Duas Caras, que é mais virado para a crítica social.
"Seria sobre o tema do pan-africanismo", explicou o agente artístico, que trabalha a "100% com Duas Caras".
Um outro material que os dois rappers tinham na forja, o projeto "Versus", também ficou inviabilizado, porque seria um conjunto de espetáculos "em dueto e frente a frente", lamentou DJ Sidney.
Além de parcerias musicais, Azagaia e Duas Caras partilhavam o facto de terem músicas banidas dos órgãos de comunicação social públicos, passando apenas nas rádios privadas e nos chamados media alternativos.
Numa breve reação à morte de Azagaia, o Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), organização não-governamental moçambicana (ONG) escreve apenas, na capa do seu boletim: "Adeus Herói do Povo".
Edson da Luz, o nome do rapper, morreu, aos 38 anos, na quinta-feira à noite, em casa, na cidade da Matola, em circunstâncias até agora não esclarecidas.
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