
A reunião da Assembleia Municipal de Lisboa (AML) foi esta terça-feira temporariamente suspensa após intervenção do presidente do grupo ultranacionalista Reconquista, Afonso Gonçalves, que foi retirado da sala pela Polícia Municipal por desobedecer às regras deste órgão.
Fazendo uso do período de intervenção aberto ao público, que é dedicado à exposição de problemas por parte dos munícipes, Afonso Gonçalves apresentou-se como presidente e fundador do movimento Reconquista e disse que iria falar sobre segurança e criminalidade em Lisboa.
Como os restantes munícipes, tinha três minutos para fazer a sua intervenção e utilizou esse tempo maioritariamente para pedir, por várias vezes, "silêncio na sala", tendo em conta o "burburinho": "É curioso que tenha de ser um munícipe a estabelecer algumas regras de bom senso e respeito democrático", declarou.
Em resposta, a presidente da AML, Rosário Farmhouse (PS), disse que "a assembleia tem sempre alguma dinâmica e algum ruído de fundo" e avisou: "Esta é Assembleia Municipal de Lisboa, não é a sua assembleia, portanto agradeço que possa fazer a sua intervenção com as regras da Assembleia Municipal de Lisboa."
Rosário Farmhouse questionou o microfone na lapela de Afonso Gonçalves, que tinha pessoas a filmá-lo na sala, além de estar a ser feita a transmissão habitual da AML, tendo o presidente do grupo ultranacionalista dito que os serviços o permitiram.
Depois de utilizar a maioria dos três minutos para trocar palavras com a presidente da AML sobre as regras deste órgão, em particular a questão do silêncio durante a intervenção, Afonso Gonçalves pediu o restabelecimento do tempo. Rosário Farmhouse respondeu que não era possível, mas admitiu dar "alguma tolerância".
Apesar dessa indicação, o representante do Reconquista desobedeceu e continuou a falar, mantendo-se no palco. Rosário Farmhouse lamentou o "discurso injurioso para com os membros desta assembleia", ressalvando que seria possível enviar informação por escrito.
Afonso Gonçalves insistiu em continuar a falar, nomeadamente sobre imigração, e voltou a ser advertido pela presidente: "Não pode vir aqui ditar as regras da assembleia municipal."
"É vergonhoso a vossa forma de fazer democracia", considerou o presidente do Reconquista.
"Comunas. Um dia vão pagar caro"
Na sequência desta intervenção, a presidente suspendeu temporariamente a sessão e dois elementos da Polícia Municipal retiraram Afonso Gonçalves do palco.
Os partidos de esquerda gritaram "25 de Abril sempre, fascismo nunca mais", ao que um elemento do grupo Reconquista respondeu, enquanto filmava: "Comunas. Um dia vão pagar caro".
Além da intervenção da Polícia Municipal, que assegura sempre a segurança da AML, foi chamada a Polícia de Segurança Pública (PSP), que identificou o grupo liderado por Afonso Gonçalves.
Para falar sobre a condução dos trabalhos, o deputado do Aliança, Jorge Nuno Sá, defendeu que os serviços da AML devem verificar que quem vem falar são munícipes de Lisboa, para evitar "ser palco de números mediáticos de organizações pouco recomendáveis, como é o caso".
O líder da bancada do PSD, Luís Newton, sugeriu a "necessária edição" da transmissão da reunião da AML no YouTube e alertou para "gravações ilegais" dentro da sala.
Maria Escaja, do BE, lamentou o sucedido e pediu que sejam tomadas as devidas diligências. "Houve um munícipe do grupo deste cidadão que fez uma ameaça a parte desta assembleia, que disse que haveríamos de pagar caro e nos fez dois gestos considerados obscenos", acrescentou.
No final, a presidente da AML esclareceu que os serviços em momento algum autorizaram o microfone de lapela utilizado pelo munícipe e solicitou que não se façam gravações dentro da sala.
"Um traidor à pátria que gosta de imigrantes"
Depois do sucedido, o presidente da Junta de Freguesia de Santa Maria Maior, Miguel Coelho (PS), responsável por territórios como o Martim Moniz, disse que, no exterior da AML, foi "assediado" por Afonso Gonçalves que o apelidou de "traidor à pátria por gostar de imigrantes".
O grupo Reconquista apresenta-se, no seu 'site', como um movimento político apartidário fundamentado em três pilares: "pátria - preservar a identidade etnocultural portuguesa; identidade - defender os valores familiares, sociais e culturais tradicionais; e futuro - reivindicar instituições que verdadeiramente representem e projetem o interesse do Estado-Nação".
Com LUSA