
"Fomos contactados por residentes [do centro de Maputo] e disseram que viram um cão que estava deitado no mesmo local já há alguns dias, sem se mexer, e quando fomos lá realmente encontramos o Bean", que "estava imóvel", conta Felicidade Leonilde, defensora dos direitos de animais e da direção da Associação Amigos dos Animais (AdA).
A associação reclama da insuficiência de espaços para albergar mais animais, que continua a resgatar das ruas de Maputo.
"Claramente que as nossas instalações são limitadas e quando estamos lotados não podemos mais trazer cães, porque temos que ter cães e ao mesmo tempo garantir um certo conforto para eles", diz Felicidade Leonilde.
Bean é apenas um dos 23 cães, uma pequena amostra dos cachorros tirados das ruas pela associação que luta pelos direitos dos animais, depois de sofrerem algum tipo de violência e que agora estão disponíveis para adoção, sendo que a associação possui igualmente 36 gatos, também vítimas de violência e abandonados nas ruas.
Só em 2023 a AdA resgatou 39 cães, dos quais 30 adultos e nove filhotes, contra 33 resgatados no ano passado. Bean faz parte desta lista dos animais resgatados e que antes sofriam maus-tratos, como exploração e venda dos mesmos em situações deploráveis, situação que é denunciada pela associação.
Agora com oito anos, Bean foi resgatado em 11 de abril de 2024, na avenida 24 de julho, no centro de Maputo, quando tinha sido abandonado à sua sorte, depois de sofrer uma agressão ocular.
Ganhou um abrigo, temporário como a família que encontrou nas instalações da AdA, que surgiu em 2019 e que agora funciona no recinto da Faculdade de Veterinária da Universidade Eduardo Mondlane (UEM).
"[Bean] É um dos que está a espera de ser adotado e vamos ver, tem que aparecer uma família que se apaixone por ele, porque tem sido assim, as pessoas vêm cá, visitam as instalações, os cães, brincam, às vezes vêm com suas crianças para ver se existe uma relação com o cão e quando existe conexão decidem pelo cão", detalha Felicidade Leonilde.
A responsável explica que o canil da associação vai fornecendo comida para os animais que acolhe, apesar dos vários meses que se passam até à adoção, enquanto tentam garantir que novos abusos não aconteçam.
"A exploração dos cães, a venda, é crueldade disfarçada em comércio (...) Muitas vezes somos solicitados, pessoas veem cães abandonados na estrada, ligam e nós vamos lá responder à chamada. Às vezes somos nós próprios que vemos um cão numa situação de perigo e paramos", diz Leonilde.
A associação AdA garante continuar a resgatar mais animais das ruas, não obstante usar meios próprios, com auxílio de voluntários.
"Há situações a que somos chamados e não podemos fazer nada, porque [o cão] está dentro do quintal, não temos autorização para entrar, mas há casos em que forçamos a situação e entramos", admitiu Felicidade Leonilde, concluindo: "Pessoalmente já tive que saltar um muro para salvar um cão que os proprietários abandonaram na residência, foram viver noutro lugar".
*** Pretilério Matsinhe (texto), Fernando Cumaio (vídeo) e Luísa Nhantumbo (fotos), da agência Lusa ***
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