Os históricos do Bloco de Esquerda (BE) Fernando Rosas, Francisco Louçã e Luís Fazenda estão a ser considerados para cabeças de lista do partido nas próximas eleições legislativas de maio, apurou o Expresso. Estes três fundadores do partido (com Miguel Portas, já falecido) terão aceitado o convite da atual direção, liderada por Mariana Mortágua, para ajudar o BE nas próximas legislativas e evitar perdas, depois de nas últimas eleições terem segurado os cinco deputados que traziam de 2023.

Os históricos do BE, todos naturais de Lisboa, estão a ser ponderados para liderar listas de círculos distritais fora da capital, mas em que o partido, dependendo da distribuição de votos, pode ficar à beira de eleger (e até já elegeu) como Braga, Aveiro ou Leiria.

Se avançarem, os nomes serão apresentados para ratificação na Mesa Nacional do partido na próxima reunião de domingo, 23 de março, mas para já corre em segredo apenas entre os principais dirigentes.

A estratégia, de acordo com as fontes ouvidas pelo Expresso, é inspirada no ressurgimento do partido alemão Die Linke ("A Esquerda" em alemão) nas últimas eleições legislativas alemãs realizadas em fevereiro. Meses antes dessas eleições, o partido arrastava-se em torno dos 3% nas sondagens, abaixo dos 5% necessários para se entrar no Bundestag.

Para garantir a entrada no parlamento alemão mesmo que a votação global ficasse abaixo desse limiar, a estratégia passou por arregimentar históricos da esquerda alemã para círculos em que tivessem hipóteses de ganhar, entre os quais Gregor Gysi, fundador de um dos partidos que deu origem ao Die Linke, Dietmar Bartsch, antigo co-líder, e Bodo Ramelow, antigo presidente do estado da Turíngia. Segundo o Politico, a lei alemã obriga a que, se três candidatos de um determinado partido vencerem os seus respetivos círculos, o partido garanta a entrada no parlamento, independentemente da votação global ser inferior a 5%.

O Die Linke chamou a esta estratégia “Mission Silberlocke”, nome que pode ser traduzido como “Missão Cabelo Grisalho”: “Queremos entrar no Bundestag seguramente com bem mais de cinco por cento. A ”Missão Cabelo Grisalho" ajuda-nos a consegui-lo. Faz parte de uma estratégia dupla: concorrer com personalidades fortes para garantirmos mandatos diretos; e fazer uma campanha eleitoral nacional claramente focada na nossa dupla de cabeças-de-lista Heidi Reichinnek e Jan van Aken", de acordo com a carta da direção do partido, publicada em novembro do ano passado.

"Concorremos com seis candidatos fortes em círculos eleitorais em que temos hipóteses de ganhar e, assim, entraremos, em qualquer dos casos, no Bundestag com força de um grupo parlamentar", acrescentam. Mas não foi preciso recorrer a essa prerrogativa. O Die Linke, também ele uma união de diferentes correntes de esquerda, acabaria por sair das urnas como o 5.º partido mais votado, com 8,77%.

Um resultado ainda mais significativo quando o partido parecia estar condenado a desaparecer. Vítima de uma cisão que deu origem a um novo partido liderado pela antiga dirigente Sahra Wagenknecht, o BSW (que alia conservadorismo em temas como a imigração à ideia de que a esquerda se afastou do seu eleitorado com as questões identitárias), o Die Linke era, então, dado como morto. E ainda mais perante o dinamismo da extrema-direita, a Alternative für Deutschland, capaz de captar eleitorado em antigos bastiões da esquerda teutónica como o território da antiga República Democrática Alemã.

Numa altura em que o BE lida com dilemas semelhantes ao Die Linke, nomeadamente a diminuição do grupo parlamentar, da degradação da sua base de votantes; e a braços com polémicas como a da dispensa de mães puérperas e lactantes após as eleições de 2022, qualquer bom exemplo que venha do estrangeiro é bem-vindo. Analistas consideram que o “regresso” do Die Linke se deveu, em grande parte, a uma campanha centrada no contato direto com o eleitorado, à mobilização dos jovens e ao carisma da líder parlamentar do partido, Heidi Reichinnek, cujo sucesso em redes sociais como o TikTok, preferida principalmente por quem tem menos de 30 anos, é tido como peça-chave para a remontada eleitoral. No TikTok, o BE tem reforçado a sua presença: quando em 2024 passavam-se dias sem novos vídeos, desde o início do ano que o partido e a sua líder Mariana Mortágua atualizam os respetivos perfis com novos vídeos.