"É um edifício que nos custou acima dos 120 mil contos [milhões de escudos, um milhão de euros], não só a sua construção, mas também a sua instalação, com a inauguração. E é barato para aquilo que custam os grandes centros culturais e os grandes museus na Europa e no mundo", sublinhou Abraão Vicente, numa cerimónia de apresentação pública do CNAD, na cidade do Mindelo.
"Nunca tivemos desde o início a garantia que teríamos todo o financiamento necessário", explicou.
O governante acrescentou que desde o início das obras surgiram "dificuldades, houve aumento dos custos" e teve de se "negociar a cada etapa da obra mais financiamento, mais engajamento".
"Sempre que se apresentou um item novo, desde a adaptação da arquitetura que o seu material se manteve, à contratação pública e internacional, à escolha dos consultores para a sua identidade visual, oscilou a ideia de fazermos algo que tivesse padrão e qualidade internacional e que tivesse um complemento da nossa própria independência nacional", descreveu.
Abraão Vicente considerou que o projeto pretende "descolonizar o olhar na arte", como algo fundamental, para que Cabo Verde se torne mais independente, entregando à cidade do Mindelo um espaço "diferente".
Os trabalhos incluíram a reabilitação do atual centro e a construção nas traseiras de um museu, que se destaca pelo seu revestimento colorido de tambor, material usado para construção de casas de lata nas periferias da cidade do Mindelo e, por isso, considerado a marca da "resistência" em São Vicente.
"É moderno porque conseguimos manter a história do edifício principal, fizemos algo simbólico que é deitar os muros abaixo para devolver o edifício à cidade, temos ambição de talvez no futuro de trazer o exemplo do restauro que se fez no edifício antigo à própria Praça Nova [Praça Amílcar Cabral], envolvendo a praça com o edifício. Ambicioso porque poderia haver ruídos na apresentação do próprio projeto devido ao facto de trazermos a periferia, as casas de lata, pela não nobreza dos materiais, para o centro da cidade", continuou.
Além de ser moderno, o governante disse que o edifício contém toda a tradição cabo-verdiana, com um percurso genuíno do povo, coberto nas exposições, que se constrói antes da independência da nação.
"Desde a recolha e o uso do algodão, o pano de terra, do modo como o artesanato e a arte fizeram parte do processo de independência nacional", recordou o ministro, para quem o novo CNAD é uma homenagem à cidade do Mindelo, na ilha de São Vicente.
"Construir o primeiro centro cultural de raiz num período pós-independência com a dimensão conceitual que não é novo, porque é a continuidade de um processo que é pós-independência, a continuidade de um trabalho de gerações, torna este trabalho coletivo, colaborativo, de várias gerações", sublinhou.
O curado e diretor do CNAD, Irlando Ferreira, disse que a estrutura tem uma "identidade visual completamente nova", que "comunica no mundo" e faz um "discurso abrangente" tendo em conta todas as suas vertentes.
O espaço irá abarcar, a partir de 30 de julho, galerias, espaços multiusos, centro de investigação, escritório, entre outras vertentes que liga diferentes artes.
O edifício do CNAD iniciou as suas atividades em 1976, com a Cooperativa Resistência que tinha como missão afirmar Cabo Verde através da cultura e no ano seguinte passa a Centro Nacional de Artesanato, entre outras designações históricas que conheceu, como a rádio, espaço de ensino e criação.
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