Questionada hoje no parlamento sobre aquele projeto, a ministra das Infraestruturas, Ordenamento do Território e Habitação, Eunice Silva, explicou que "infelizmente os recursos escassearam" e o programa para o Alto da Bomba, um bairro informal, "não tem financiamento garantido", estando em execução no âmbito do projeto "Outros Bairros", implementado pelo Programa de Requalificação, Reabilitação e Acessibilidades (PRRA).
"E a obra foi efetivamente suspensa. Com a retoma das obras [do PRRA] tivemos que redesenhar a solução financeira para o Alto da Bomba, contamos ainda este mês adjudicar a obra, já estamos com a proposta fechada com o empreiteiro e vamos retomar o Alto da Bomba e arrancar o Covado de Bruxa", explicou a ministra, durante a sessão parlamentar que está a decorrer na Assembleia Nacional, na Praia.
Mais de 100 cidadãos enviaram no final do mês de junho uma carta aberta à ministra das Infraestruturas, Ordenamento do Território e Habitação a pedir a retoma das obras daquele projeto de reabilitação urbana. A carta foi enviada por moradores que querem ver retomadas as obras do projeto "Outros Bairros", de reabilitação urbana em São Vicente, do Ministério de Infraestruturas, Ordenamento do Território e Habitação, que pretende intervir nos bairros informais de Cabo Verde.
O projeto permite a sua transformação, através da reabilitação, revitalização e acessibilidades, e arrancou há mais de dois anos com uma intervenção piloto no bairro de Alto de Bomba, prevendo outras áreas na envolvência da cidade do Mindelo.
Entretanto, os moradores mostraram-se perplexos com a "continuada paragem das obras" deste projeto que em abril foi distinguido com o prémio "Obra do Ano 2022", na arquitetura lusófona, atribuída pela revista online de especialidade "ArchDaily", na versão do Brasil, e é integrante da lista de finalistas do prémio Aga Khan Award for Architecture.
"Pessoalmente, devo uma explicação à população do bairro do Alto da Bomba. Conto, assim que tiver possibilidade de ir ao Alto da Bomba, falar com as pessoas e explicar esse atraso e a retoma que vai acontecer", afirmou hoje a ministra.
"É um projeto que nós acarinhamos muito. É uma experiência nova, uma experiência boa, que queremos replicar em outros lugares de Cabo Verde", disse ainda a governante, no parlamento.
Para os habitantes daquele bairro, a paragem dos trabalhos está a "bloquear a melhoria das condições de vida de todos os moradores, que continuam sem respostas sobre a construção do espaço público, do depósito de água e das redes de eletricidade, de abastecimento de água, de esgoto e de drenagem pluvial".
O trabalho no espaço público envolve uma área de 6.965 metros quadrados, nos bairros de Cova e Alto de Bomba, Canelona, Covada de Bruxa e Fernando Pó, em São Vicente, incluindo o calcetamento de vias antes em terra batida, trabalho garantido por mulheres que residem nos próprios bairros e que foram formadas e pagas para o efeito.
Ao abrigo do programa, mulheres daqueles bairros foram formadas em técnicas de calcetamento e asseguraram já parte desse trabalho no projeto, em ruas antes em terra batida.
"Vamos diligenciar junto do empreiteiro para que o empreiteiro absorva [as calceteiras]. Entretanto, dependendo da natureza da obra, vamos ver se é possível. Não sendo possível, estaremos a diligenciar junto da Câmara para que essas famílias não fiquem sem emprego", disse a ministra, ainda questionada pelos deputados.
Alto de Bomba é um bairro de São Vicente com uma das melhores vistas para a cidade do Mindelo, mas nasceu de forma informal, com a população a construir casas clandestinas, onde o ordenamento do território não foi tido em conta.
Por este motivo, as autoridades locais apontam a dificuldade inicial de fazer chegar saneamento, estradas e outras infraestruturas primordiais para o desenvolvimento, ultrapassadas com a pedagogia envolvida com o projeto "Outros Bairros".
De acordo com o coordenador deste trabalho, Nuno Flores, um dos signatários, a reabilitação urbana tinha como ponto de partida o modo de vida da população local, com uma equipa técnica no terreno a "escutar" as necessidades locais e a estabelecer a formas de atuar.
Além da obra, a equipa do "Outros Bairros" promoveu a criação de espaços públicos, avaliando o "saber fazer" dos moradores. Apesar de mudar a vida destes moradores, o projeto foi concretizado, até ao momento, em cerca de 40% do inicialmente previsto.
Em dois anos foram aplicados mais de 20 milhões de escudos (180 mil euros) em obras que permitiram mudar a vida aos moradores destes assentamentos, que cresceram ao longo dos anos na ilha de São Vicente.
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