Em declarações à agência Lusa, e numa altura em que surgem relatos sobre a organização de desfiles carnavalescos no arquipélago, nomeadamente na ilha de São Vicente, em formato 'online', o ministro Abraão Vicente rejeitou que isso possa acontecer e garantiu que essa orientação será dada pelo gabinete de crise do Governo, criado para gerir a pandemia de covid-19.

"O gabinete de crise vai-se reunir, não vai haver Carnaval. Eu creio que já há um entendimento tácito por parte dos organizadores, mas vamos organizar um encontro com os principais 'players' do Carnaval em Cabo Verde para passar essa determinação e essa diretiva do Governo: Não há condições para a realização de carnavais", afirmou o ministro da Cultura e das Indústrias Criativas.

De acordo com Abraão Vicente, essa orientação será dada aos principais grupos e organizadores de Carnaval em Cabo Verde nos próximos dias, numa reunião que juntará também o Ministério da Administração Interna.

"Para configurar um entendimento e um consenso quanto a esta matéria", disse ainda, garantindo que num momento de pandemia, "não há condições" para a realização de eventos com aglomerados, como seria o caso, tratando-se da maior festa popular em Cabo Verde.

"O Carnaval é um evento popular, não faz sentido sequer que as entidades públicas promovam atividades virtuais, no sentido de transmitir 'online'. Quem quer lembrar o Carnaval, virtual, poder ir ao Youtube, pode ir aos arquivos. Mas não é concebível, neste momento, que qualquer entidade pública, num período de pandemia e principalmente na ilha de São Vicente e na Praia, não faz sequer sentido para o Estado financiar ou promover qualquer tipo de ajuntamento", frisou.

Devido ao forte aumento de casos de covid-19, o Governo cabo-verdiano colocou este mês, e até 15 de fevereiro (véspera do dia de Carnaval), a ilha de São Vicente - habitualmente palco dos principais desfiles carnavalescos de Cabo Verde - em situação de calamidade (o nível mais grave na lei que estabelece as bases da Proteção Civil), e todas as restantes em contingência (segundo de três níveis).

Dezenas de grupos e centenas de foliões desfilaram no Carnaval de 2020 em Cabo Verde, edição que foi então marcada pelo centenário em São Vicente, o mais emblemático do país, que habitualmente leva milhares de forasteiros à ilha, atraídos pelo típico sambódromo.

Outro Carnaval emblemático acontece anualmente na cidade da Ribeira Brava, ilha de São Nicolau, tal como na Praia, pela dimensão da capital cabo-verdiana.

O Presidente da República, Jorge Carlos Fonseca, apelou quinta-feira à disponibilidade de todos "contra a propagação" da pandemia de covid-19, numa altura em que o número de casos no arquipélago está em máximos desde novembro.

"Nada, mesmo nada, pode distrair-nos do primordial: o combate à covid-19", escreveu o chefe de Estado, numa mensagem na rede social Facebook.

Nos dias 15 e 27 de janeiro as autoridades cabo-verdianas voltaram a diagnosticar mais de 100 casos de covid-19 por dia, algo que já não acontecia desde 25 de novembro. Contudo, também surge numa altura em que aumentam os testes diários, que por duas vezes já ultrapassaram os mil por dia em janeiro.

Além disso, só este mês, o arquipélago registou mais 18 mortes - chegando a um pico de três por dia - por complicações diretamente associadas à covid-19, que ascendem a 129, desde o início da pandemia.

"Temos de estar todos, mesmo todos, atentos e disponíveis para a luta contra a propagação da epidemia que tudo condiciona", apelou, numa altura em que também surgem relatos de relaxamento nas medidas de distanciamento social e no uso de máscaras de proteção em todo o arquipélago.

O concelho da Praia voltou nos últimos dias a ser o principal foco da doença em Cabo Verde, tendo atualmente 291 casos de covid-19 ativos, seguido da ilha de São Vicente, com 232, que permanece em situação de calamidade, por decisão do Governo, até 15 de fevereiro.

Desde 19 de março, quando foi registado o primeiro caso no país, as autoridades cabo-verdianas já identificaram 13.784 casos positivos em todos os 22 concelhos do país, permanecendo 667 casos ativos em todo arquipélago.

A pandemia de covid-19 provocou, pelo menos, 2.191.865 mortos resultantes de mais de 101 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.

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