O cancro colorretal é um tumor maligno do intestino grosso, que atinge - normalmente - pessoas com mais de cinquenta anos. Na mulher, é o segundo tumor mais frequente a seguir ao cancro da mama e, no homem, é também o segundo logo a seguir ao cancro da próstata. Devido a este registo e à mortalidade significativa, a preocupação dos especialistas tem consistido, nos últimos anos, em conseguir diminuir a incidência desta doença.

Em Portugal, o cancro colorretal é o segundo com mais novos casos e mortes, depois do tumor do pulmão. Já ultrapassámos os 10 mil casos por ano e em termos de mortalidade chegámos aos 4 mil casos anuais, sendo que 12 portugueses morrem, por dia, devido a esta doença. 660 pessoas morrem todos os dias na Europa e 2 mil e 500 em todo o mundo.

Se for detetada numa fase precoce, é uma doença tratável, daí a importância extrema dos rastreios, considerada - aos dias de hoje - a forma de prevenção mais eficaz. A partir dos 50 anos, toda a população portuguesa deve ser rastreada e privilegiar uma vigilância médica regular, porque detectar atempadamente esta neoplasia maligna pode, efetivamente, salvar muitas vidas.

Não obstante, o rastreio regista as menores taxas de adesão e de população abrangida pelos convites de todos os programas de rastreio de base populacional do país. Em 2022, apenas 33 % das pessoas elegíveis foram convidadas a participar e, destas, apenas 41 % aceitaram, o que resultou numa cobertura de rastreio efetiva de apenas 14 %.

Cancro colorreral está a ocorrer cada vez mais em pessoas jovens

Nos últimos 30 anos, o cancro colorretal tem registado um aumento do número de diagnósticos nas pessoas com menos de 50 anos, com uma incidência que cresceu 80 %. Os dados são do Registo Europeu para das Desigualdades no Cancro a propósito do mês de sensibilização para o cancro colorretal.

As estimativas apontam, ainda, para que 11 % dos cancros do cólon e 23 % dos cancros do reto ocorram em indivíduos jovens (com menos de 50 anos) até 2030. Os especialistas concordam com a necessidade de reduzir a idade mínima recomendada para o rastreio, que deverá passar dos 50 para os 45 anos.

Vítor Neves, presidente da Europacolon Portugal
Vítor Neves, presidente da Europacolon Portugal SIC Notícias

Segundo Vítor Neves, presidente da Europacolon Portugal, os técnicos associam à alimentação e ao sedentarismo.“Os estudos que estão a ser feitos, ainda não há dados definitivos, mas levam a que a causa principal seja, de facto, a forma como nós enfrentamos a vida e os ambientes em que nos movimentamos”, explica Vítor Neves, numa recente reportagem realizada pela SIC. Na mesma peça, a associação de doentes Europacolon apela aos mais jovens que não desvalorizem sintomas e aos médicos que não ignorem a estatística.

Saiba mais, no vídeo abaixo, sobre os sinais, fatores de risco associados e formas de prevenir esta neoplasia maligna:



Novo estudo pretende desenvolver teste não invasivo para deteção do cancro colorretal

O estudo CARE-CRC pretende desenvolver uma ferramenta de diagnóstico não invasiva baseada no microbioma, identificando biomarcadores que permitam melhorar a deteção do cancro colorrectal, personalizar tratamentos e reduzir os custos de saúde. Além disso, os resultados poderão dar indicação sobre a influência do estilo de vida, dieta e alterações do microbioma na progressão do cancro colorrectal, podendo levar a estratégias preventivas personalizadas e a melhores resultados terapêuticos.

Ao longo de 12 meses, este estudo longitudinal recrutará 400 pacientes com diagnóstico recente de cancro colorrectal, com idades entre 40 e 74 anos, que não tenham iniciado qualquer tratamento. Serão recolhidas amostras fecais em três momentos-chave: no momento do diagnóstico e entrada do estudo, após a conclusão de cada regime terapêutico e três anos após o diagnóstico. Estas amostras vão permitir o estudo detalhado do microbioma intestinal, através da técnica de sequenciação metagenómica. O objetivo final será identificar correlações entre a composição do microbioma e os resultados clínicos, incluindo respostas terapêuticas que poderão levar a novas soluções para o cancro colorrectal.

O estudo clínico CARE-CRC é coordenado pela Ana Santos Almeida, investigadora principal de um laboratório translacional da Fundação GIMM (GIMM CARE) e vai decorrer na Fundação Champalimaud, em colaboração com o cirurgião José Azevedo, e no Hospital de Santa Maria, com a participação dos oncologistas Luís Costa e André Mansinho.

A realidade de outros cancros digestivos

Em apenas três anos, os casos de cancro do estômago, pâncreas, fígado e intestino aumentaram. Basta olhar para os dados da GLOBOCAN: o cancro do intestino aumentou a incidência em 4,7 % e a mortalidade em 14,12 % entre 2019 e 2022, e as doenças digestivas, em 2022, atingiram mais de 18 mil pessoas e mataram 11 mil 700 pessoas.

O mesmo aconteceu para o cancro do pâncreas, que registou um aumento de 33 %. O cancro do intestino foi o mais letal, com 4 mil 809 mortes, seguido do estômago (2 mil 578) e do pâncreas (2 mil 086).

Todos os dias morrem 30 pessoas de cancro digestivo no país.