"Neste momento a gestão do país deixa dúvidas pelas más práticas, sobretudo dos últimos anos, e com espírito de missão, decidi assumir este desafio e candidatar-me às eleições presidenciais de julho de forma a devolver a esperança aos são-tomenses", afirmou o candidato, em entrevista à Lusa, durante uma passagem por Lisboa.

Antigo ministro das Obras Públicas, Infraestruturas, Recursos Naturais e Ambiente do Governo da Ação Democrática Independente (ADI), liderado por Patrice Trovoada (2014-2018), Carlos Vila Nova esenvolveu a maior parte da sua atividade profissional no setor turístico.

"Temos assistido, ao longo especialmente destes últimos três anos, a atos manifestamente de corrupção, de impunidade, de maus tratos e falta de cuidados. É preciso que se devolva a confiança às pessoas e nós temos sentido que não se tem olhado para as pessoas", afirmou.

Questionado sobre quem são os autores da corrupção a que se refere, Carlos Vila Nova respondeu: "Elementos do Governo, elementos que entregam a 'nova maioria'", referindo-se à coligação que suporta o executivo de Jorge Bom Jesus no parlamento, composta pelo Movimento de Libertação de São Tomé e Príncipe (MLSTP) e as forças PCD/UDD/MDFM.

"Nós temos evidências de instituições do Estado, públicas, que é o caso do Tribunal de Contas que produziu relatórios a pôr em causa projetos claramente, manifestamente, havendo desvios de fundos e é como se não tivesse acontecido nada, mas a sociedade civil nota de facto o clima de impunidade", sustentou.

Para o candidato, "a promiscuidade entre a justiça e o poder é tão grande que é preciso romper com essas práticas".

A situação da Justiça é mesmo uma das prioridades do candidato, que pretende "fazer a ponte entre os diferentes setores" e "trabalhar com os agentes judiciais, com a sociedade civil, com a Assembleia Nacional e com o Governo" para um compromisso para "uma verdadeira reforma da justiça".

Por outro lado, com o impacto da pandemia de covid-19 num país com "uma economia estática e muito dependente da cooperação internacional", Vila Nova sustenta que "o foco do próximo Presidente da República terá de ser muito virado para os setores sociais".

Outra prioridade "é a pacificação do clima social", disse, defendendo: "Temos de trabalhar mais na inclusão das pessoas para baixar a carga do ódio que se instalou na sociedade são-tomense", e que justifica com a falta de oportunidades, sobretudo para os jovens, cerca de 65% da população.

Mas, alertou, "a maioria não tem oportunidades, porque o nepotismo e a corrupção são grandes" e "é preciso combater esses males".

"Com a magistratura de influência do Presidente da República, proponho-me a ajudar os governos a gerirem melhor os recursos e a terem em conta a melhoria das condições de vida de toda a população, mas sobretudo da camada jovem", disse.

A cerca de dois meses das eleições presidenciais, marcadas para 18 de julho, perto de uma dezena de políticos já formalizaram a sua candidatura, mas vários outros já anunciaram a intenção de entrar na corrida ao 'Palácio Cor de Rosa', incluindo pelo menos cinco militantes do MLSTP-PSD, partido no Governo.

"Veremos quem serão os futuros candidatos [após a validação pelo Tribunal Constitucional], mas confirmo que, do lado da 'nova maioria', parece-me que há candidatos a mais e não se sabe realmente em quem votar", comentou.

"Nós estamos preocupados com a nossa candidatura, com a nossa proposta. Vamos levar as nossas ideias e fazer entender à nossa população que só há rutura, só há esperança com a minha candidatura, porque do outro lado do mesmo bloco do poder, com tantas candidaturas, no fim acabam por ser as mesmas ideias, não há diferença entre elas e é a continuação ou a perpetuação da política atual", sustentou.

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Lusa/fim