Teresa Reis, de 75 anos, é chefe de suco (conjunto de aldeias) há cerca de 18 anos e é uma das 18 mulheres que lidera um suco, num total de 442, em Timor-Leste, tendo sido reeleita em 2023 nas últimas eleições comunitárias.
"Uma regra que pus aqui foi o 'tara bandu', que significa que não podemos fazer o que queremos temos de cumprir a lei, é um dever e obrigação", explicou à Lusa Teresa Reis, antiga funcionária do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras em Portugal, onde viveu até à restauração da independência em Timor-Leste, em 2002.
O 'tara bandu' é um costume tradicional timorense que impõe a paz e a reconciliação através de acordos públicos que definem normas e práticas sociais para uma determinada comunidade.
Em Bucoli, chama-se Regulamento Interno do Suco.
"Se alguém falar mal dos outros tem uma sanção, se alguém roubar um búfalo ou um cavalo, o ladrão tem de pagar dez vezes mais o valor", explicou Teresa Reis.
O mesmo aplica-se a homens casados que arranjem outras mulheres e a mulheres casadas que arranjem outros homens.
"Se o homem é casado e vai com uma mulher solteira também tem de pagar a taxa. Se a mulher casada vai com um rapaz solteiro também tem de pagar. O rapaz paga um búfalo ou um cavalo, a mulher tem de pagar um porco e tais [panos tradicionais]", disse a chefe de suco.
Se, por exemplo, disse, da relação extraconjugal entre um homem casado e uma mulher solteira nascer um filho, o homem é obrigado a assumir as responsabilidade parentais até o filho acabar os estudos.
As multas têm um valor máximo de 250 dólares (223 euros) e podem ser pagas em dinheiro, animais, tais e outros bens.
As regras, segundo Teresa Reis, também se aplicam aos grupos de artes marciais, cuja prática está suspensa no país há quase um ano.
Questionada sobre quais os principais problemas que existem no suco de Bucoli, Teresa Reis afirmou que são as "artes marciais com os partidos".
"Os partidos é que jogam uns contra os outros e as artes marciais também. Batem-se uns aos outros, matam-se uns aos outros, assaltam as pessoas", disse, mas salientou que desde há cinco anos que a situação está "mais calma".
De resto os problemas não são muitos, as pessoas quase todas trabalham, com destaque para as mulheres, que "fazem bolos" e vendem produtos agrícolas.
Teresa Reis classificou com um "mais ou menos" o desenvolvimento em Bucoli, situado a cerca de 14 quilómetros de Baucau, segunda cidade do país, que assinalou em maio último 22 anos da restauração da independência.
"Na política nem para a frente, nem para trás. Mas tudo é igual, para dizer é tudo garganta, mas na prática nós não vemos nada. Só falam, mas como somos pequeninos, o povo não pode dizer nada", afirmou a chefe de suco, sobre a situação no país, lamentando a rotação de funcionários públicos por interesse partidário, independentemente da competência.
Questionada sobre se a política timorense se tem preocupado com as mulheres, Teresa Reis, que tem cerca de 10 mulheres a trabalhar na sede de suco, disse que os políticos "pensam, mas não fazem".
"Cada vez que há uma campanha eles falam muito das mulheres, mas nós não vemos nada", lamentou a chefe de suco, que admite que não vai acabar o mandato por ter "muito trabalho".
Em relação ao seu substituto, Teresa Reis admitiu que será um homem. As mulheres com quem falou não aceitaram, porque é "muito difícil".
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