
Os extremos não se tocam no segundo debate para eleições as legislativas desta quarta-feira. Na CNN Portugal, André Ventura (Chega) Paulo Raimundo (CDU) discutiram as suspeitas que envolvem Pedro Nuno Santos, a soberania da economia europeia e o IRC.
A discussão arrancou com um comentário às notícias recentes que levantam suspeitas sobre dois imóveis de Pedro Nuno Santos.
“Acho estranho como é que vejo políticos a comprar casas se qualquer maneira, como se o dinheiro jorrasse das fontes”, aponta André Ventura, exigindo explicações ao líder socialista, tal como a Luís Montenegro. É como diz o ditado: “Quem cabritos dá e cabras não tem de algum lado lhe vem.”
“Se há um processo em curso tem de ser investigado até ao fim e o mais depressa possível. É isto que se impõe”, aponta, por sua vez Paulo Raimundo, defendendo, por outro lado, que o debate não pode ficar “afunilado por estes temas”.
Portugal sem a Europa?
Apesar de os dois partidos se alinharem contra o acordo do Mercosul, o tema acendeu a discussão.
André Ventura acusou Paulo Raimundo de “abandonar os trabalhadores” do Alentejo – “que agora estão a votar no Chega” - e defende que a Europa deve “proteger a indústria os seus trabalhadores”.
“Há muito tempo que nós não devíamos estar sujeitos a que um regime como o chinês, amigo de Paulo Raimundo, nos invadisse vestuário barato, calçado barato, com mão de obra escrava.”
Em resposta, Raimundo diz que Ventura não se pode esquecer que Portugal é “um país soberano, que tem todas as condições para enfrentar o seu caminho desenvolvimento”, até porque tem necessidades diferentes da França e Alemanha.
Paulo Raimundo e André Ventura: quem tem melhores notas?
E regressa uma velha questão: o PCP defende a saída do Euro? “Um ano depois, a mesma coisa”, reclama Paulo Raimundo. "Tem mais alguma coisa na cartilha?".
Ventura tem. Chega à mesa do debate a cartada da guerra na Ucrânia. Se a economia vai mal... é “muito por culpa dos amigos do PCP” (desta vez a Rússia). Paulo Raimundo volta ao resmungo: “A culpa é sempre do PCP.”
Da “bandidagem” às “brincadeiras”
O líder do Chega responsabiliza ainda o PCP por contribuir para “despesas de milhões de euros” para o Estado com institutos, fundações, nomeações políticas e cargos autárquicos.
O secretário-geral comunista defende que se “impõe dar resposta a quem vive e trabalha com muitas dificuldades" e pede uma ideia ‘emprestada’ a André Ventura:
“Eu vivo num bairro periférico (...), tem muitos problemas e há lá bandidagem, mas no bairro do André Ventura também há muita bandidagem, só que para alguns talvez o delito seja diferente...”
Num país onde o salário de muitas pessoas não chega ao fim do mês, Raimundo critica ainda a descida do IRC para 15%: "Implica menos dois mil milhões de euros por ano de recolha financeira para o Estado. Como vai explicar aos professores, médicos, às forças de segurança, aos bombeiros que lhes vai cortar estes dois mil milhões? É preciso fazer opções".
O Chega ainda não teve oportunidade de governar e fazes essas opções, ao contrário do PCP – que apoiou o Partido Socialista deixando o país com uma carga fiscal recorde de 35,8% do PIB em 2021, atira Ventura.
“Mais de 70 mil milhões pagamos em impostos por causa das vossas brincadeiras, a brincadeira da geringonça.”
Como ajudar as pequenas empresas?
Além disso, lembra o líder do Chega, o IRC também ajuda pequenas empresas que têm de pagar salários a trabalhadores, não apenas multinacionais.
Para proteger as pequenas empresas é preciso “atacar” os seus verdadeiros problemas dos empresários, como o preço da energia, das comunicações, o crédito bancário, responde Raimundo, ironizando: “isto não se pode atacar porque mexia nos lucros das grandes empresas”.
O líder do Chega acusa o PCP de hipocrisia por “ocupar terras” e “pagar muito menos IMI”. Diz que o opositor “não percebe nada de economia”.
“São opções”, repete Raimundo – canalizar dinheiro para pensões em vez de benefícios fiscais.
Ventura insiste com os fantasmas do passado, enquanto Raimundo defende que o seu partido “lutou muito pela democracia e pela liberdade”. "Eu aceito muitas lições do PCP, mas não de democracia” - responde o líder do Chega - “porque não sou eu que pertenço a um partido impedido de fazer campanhas internas".
Numa coisa Ventura e Raimundo estão de acordo, com uma frase repetida por ambos: “Há um mundo de diferença entre nós.”