A porta-voz da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo), Ludmila Maguni, explicou hoje à Lusa que a eleição a presidente do partido de Daniel Chapo, chefe de Estado já em funções, é um processo natural na história daquela estrutura partidária.

Todos os anteriores Presidentes da República de Moçambique foram também presidentes da Frelimo, partido no poder desde 1975.

Na convocatória -- 14 de fevereiro, 09:00 locais (menos duas horas em Lisboa), na Matola, arredores de Maputo - para esta terceira sessão extraordinária do órgão máximo do partido entre congressos, a que a Lusa teve hoje acesso, além da eleição do presidente do partido, é referido que será feita a eleição pelo Comité Central do secretário-geral, cargo atualmente assumido por Daniel Chapo, e dos membros do secretariado daquele órgão.

Filipe Nyusi, que foi também Presidente da República nos últimos dez anos, até à tomada de posse para o mesmo cargo de Daniel Chapo, em 15 de janeiro, foi reeleito no XII congresso, em 25 de setembro de 2022, presidente da Frelimo para o mandato de cinco anos, até 2027.

De acordo com os estatutos da Frelimo, o Comité Central, composto por 250 membros, tem a competência de "eleger, entre os seus membros, por maioria de dois terços, o presidente do partido, no caso de substituição por morte, renúncia ou incapacidade", sob proposta da comissão política, pelo que face à saída de Nyusi antes do final do mandato não será necessário convocar congresso.

Formado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, em 2000, Daniel Francisco Chapo, 48 anos, nasceu em Inhaminga, província de Sofala, centro de Moçambique, em 06 de janeiro de 1977, sendo por isso o primeiro Presidente nascido já depois da independência do país (1975).

Chapo, que já foi locutor de rádio, docente universitário e administrador, era, até à altura da sua indicação com candidato da Frelimo, pelo Comité Central, em maio do ano passado, um político de "perfil discreto" que governava, desde 2016, a província turística de Inhambane, no sul de Moçambique.

Apontado pela Frelimo como uma "proposta jovem", assumiu em 15 de janeiro a Presidência moçambicana no ano em que o país assinala 50 anos de independência, um período marcado, entretanto, pela maior contestação aos resultados eleitorais desde as primeiras eleições, 1994.

Pelo menos 314 pessoas morreram em confrontos entre a polícia e protestantes nas manifestações pós-eleitorais desde 21 de outubro, além de mais de 600 feridos a tiro, segundo balanço da Plataforma Eleitoral Decide, que monitoriza os processos eleitorais em Moçambique.

São manifestações e paralisações convocadas pelo então candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados eleitorais anunciados, mas, na rua, os protestos são maioritariamente assumidos por jovens, que questionam os 50 anos da governação da Frelimo e, além do argumento da verdade eleitoral, incluem, como motivações, o desemprego e a baixa escolaridade, que, dos 32 milhões de moçambicanos, afeta um terço dos cerca de 9,4 milhões de jovens que existem no país, segundo as estatísticas oficiais mais recentes.

É um problema que durante a campanha eleitoral, por diversas vezes, Chapo abordou, apontando a formação como fundamental e prometendo oportunidades.

"Queremos potenciar a atividade agrícola para impulsionar a produção e, por via disso, atrair a indústria para aqui. Isso vai criar mais empregos para os nossos jovens", declarou Chapo, num comício, em 21 setembro, em Cuamba, província do Niassa, perante uma plateia predominantemente jovem.

Essencialmente, no seu manifesto, com o slogan "Vamos Trabalhar", a prioridade é "atacar a burocracia e a corrupção", avançou Chapo, em entrevista à Lusa em outubro, destacando que governar o país era uma "missão" lhe havia sido atribuída pela Frelimo.

 

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