“Diários Migrantes”: um designer brasileiro na ceia de Natal dos mais pobres

Willy Silva sonhava conhecer o mundo mas, como tanta gente, não achava que isso fosse realmente acontecer. Mas aconteceu. Viajou por toda a Europa quando as companhias low cost vendiam bilhetes a um euro, mas quando o visto de estudante na Hungria expirou, Willy ficou sem documentos, sem trabalho, sem casa. Não se pode dizer que tenha escolhido Portugal, foi a facilidade de entrar no país como turista que acabou por ditar o seu destino

João Carlos Santos e Tiago Pereira Santos

Hoje brinca com o facto de já ter até direito a férias, esse luxo. Tem também um patrão que não lhe paga aos 20 e 30 euros, dia sim, dia não, como quando viveu no Porto, num hostel degradado.

Willy Silva veio estudar para a Europa quando tinha 20 anos e acabou por se apaixonar pela vida de viajante. Conseguiu uma bolsa para se licenciar em design, mas quando tentou outra para o mestrado as regras de atribuição tinham mudado. Viu-se sem documentos para permanecer e uma breve pesquisa no Google mostrou-lhe um caminho possível: Portugal, que tinha regras um pouco menos apertadas para a entrada de estrangeiros do que outros países do espaço Schengen.

A mesma língua, algum calor, cultura mais ou menos parecida. Podia ser que resultasse. Mas nem a facilidade em fazer-se entender lhe serviu como rede num país onde até os portugueses ganham mal e o imigrante indocumentado ganha aquilo que o patrão entende pagar-lhe.

Este testemunho, tal como os que vamos contar nos próximos episódios deste podcast, foi recolhido pelo projeto Diários de Migrantes, da Arquivo dos Diários, uma associação sem fins lucrativos que visa preservar memórias autobiográficas de todos os que desejem escrevê-las. A iniciativa foi financiada pelo Fundo Social Europeu e pelo Portugal2020. Quem estiver interessado pode saber mais na página do projeto, que continua a aceitar biografias e diários em texto, mas também em vídeo ou desenho.

As passagens do diário de Willy são lidas pelo jornalista João Diogo Correia, o guião, a adaptação dos diários e as entrevistas são da jornalista Ana França e a sonoplastia da série é de Salomé Rita. As capas que ilustram cada episódio são de João Carlos Santos e Tiago Pereira Santos. A coordenação é de Joana Beleza e a direção de João Vieira Pereira

João Carlos Santos e Tiago Pereira Santos

Kiran, Usman, Salima, Willy e Filomena: cinco diários contam as vidas em trânsito de cinco pessoas que o destino trouxe até Portugal. Aqui ouvimos uma adaptação das páginas que elas escreveram, sobre o seu passado e a experiência migratória, e que a associação 'Arquivo dos Diários' partilhou com o Expresso. Ouça e subscreva em qualquer plataforma de podcasts: