Pela primeira vez em dois anos, os diretores escolares prepararam o início do novo ano letivo sem a covid-19 no topo das suas preocupações, para um regresso às aulas quase a lembrar o período pré-pandemia, mas refletindo tudo aquilo que as escolas aprenderam entretanto.
É o regresso possível a uma normalidade que pais, professores e alunos desejavam. "Acho que, nesse aspeto, o céu está azul", disse à agência Lusa o presidente da Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas (ANDAEP).
Segundo Filinto Lima, as escolas prepararam-se para o novo ano letivo, que arranca entre terça-feira e sexta-feira, mais ou menos como prepararam o início do ano letivo de 2019/2020, o último antes da pandemia e que começou sem quaisquer restrições.
Desde então, máscaras obrigatórias, distanciamento físico, horários desfasados, turmas organizadas em "bolhas", circuitos para entrar e sair da escola, ou planos de contingência com o que fazer em caso de surtos de covid-19 passaram a fazer parte das preocupações dos diretores a esta altura.
No próximo ano, essas restrições já não farão parte do quotidiano dos alunos, mas o presidente da Associação Nacional de Dirigentes Escolares (ANDE) sublinha que a pandemia da covid-19 não está ultrapassada.
"A escola de hoje não é a escola de 2019", afirmou Manuel Pereira, sustentando que apesar de já não vigorarem medidas restritivas, as escolas também aprenderam algumas lições com a pandemia que se vão refletir nas pequenas coisas, por exemplo, o reforço da higienização dos espaços.
"Os tempos novos têm de ser vividos à luz do que se aprendeu nos tempos passados, e vamos ter de continuar a viver com a pandemia", acrescentou o diretor que, por exemplo, quanto ao uso de máscara, considera positivo os alunos o façam nos transportes públicos, apesar de já não ser obrigatório.
Por outro lado, algumas escolas vão manter igualmente os planos de contingência e o contacto próximo com as autoridades de saúde para evitarem, tanto quando possível, casos de infeção e para saberem o que fazer se isso acontecer.
"Toda a gente deseja a normalidade", acrescenta, por sua vez, a presidente da Confederação Nacional das Associações de Pais (Confap), que admitiu que uma das principais preocupações dos pais em vésperas do regresso às aulas se prende com a saúde mental dos alunos e professores depois de três anos com constrangimentos devido à pandemia.
A atual situação epidemiológica permite que assim seja, mas o Governo não afasta a possibilidade de, com a chegada do outono e inverno, a situação se agrave e implique medidas adicionais.
Os diretores esperam que eventuais medidas não voltem a afetar as escolas e o ensino, mas asseguram que, se for necessário, também estão preparados para isso.
"Estamos muito melhor preparados e já temos muita experiência com os meios digitais e em aplicá-los nas aulas à distância", afirmou Filinto Lima, recordando que esse foi o grande desafio quando as escolas encerraram em 2020, mas, após dois anos com novos períodos de aulas ensino 'online', deixou de ser impeditivo.
Da parte da Confap, Mariana Carvalho concorda que entre as várias medidas implementadas devido à covid-19, algumas poderão continuar a ser vantajosas neste novo período, como o reforço da higienização dos espaços e algum desfasamento de horários que permita facilitar a circulação à entrada das escolas.
Por outro lado, a representante dos pais alerta que para algumas crianças esse regresso à normalidade poderá ser estranho e, por isso, sublinha a necessidade de as escolas estarem também atentas a esse aspeto.
"Acredito que conseguiríamos ajudar toda a comunidade educativa criando equipas multidisciplinares que estivessem presentes nas escolas e próximas das comunidades", acrescenta.
Esse é também um dos eixos do Plano 21|23 Escola+, para a recuperação das aprendizagens afetadas durante a pandemia, que destaca igualmente o bem-estar da comunidade escolar e se vai manter durante o próximo ano letivo.
MYCA // HB
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