
De acordo com uma listagem do DOGE, oficializada no fim de semana e consultada hoje pela Lusa, o programa "circuncisão médica masculina voluntária em Moçambique" é um dos 15 "cancelados" por aquele novo departamento em países africanos, asiáticos e europeus.
Anteriormente, Elon Musk, que lidera o novo departamento criado pelo Presidente norte-americano, Donald Trump, já tinha denunciado 50 milhões de dólares (47,7 milhões de euros) em preservativos -- para prevenção de HIV/Sida - de apoio dos Estados Unidos da América (EUA) para Gaza, que associou inicialmente à Palestina, corrigindo depois para província de Gaza, no sul de Moçambique.
"Não sei se devemos enviar 50 milhões de dólares em preservativos para qualquer lugar, francamente. Não sei se é algo que entusiasme os norte-americanos. E já agora é muito dinheiro em preservativos. Se é para Moçambique e não para Gaza, não é tão mau, mas porque fazemos isso", questionou Musk.
O Governo moçambicano afirmou em 07 de fevereiro que a suspensão da ajuda internacional norte-americana compromete programas de saúde em Moçambique, com destaque para o VIH/Sida, e que estava em "diálogo" com a embaixada dos EUA para "mitigar os impactos".
"A retirada brusca desse apoio compromete, como podem imaginar de alguma forma, a eficiência na implementação desses programas (...) O apoio do Governo americano financia uma parte considerável da provisão de profissionais de saúde e sobretudo na área de assistência de HIV/SIDA", disse Inocêncio Impissa, porta-voz do Governo moçambicano e ministro da Administração Estatal e Função Pública, durante uma conferência de imprensa, em Maputo.
Reconhecendo a "gravidade da medida" anunciada pelo Presidente norte-americano, o governante moçambicano garantiu contudo a continuidade de serviços essenciais de saúde, pedindo que a população não entre em pânico.
O governante disse que a suspensão do financiamento tem também implicações na aquisição e distribuição de medicamentos, e destacou a importância do apoio para manter programas estratégicos e prioritários de saúde em Moçambique, como o combate, entre outras doenças, ao VIH/Sida e tuberculose.
"Quer o armazém central, como os regionais, vão sentir, para os próximos dias, alguma superlotação de medicamentos porque a logística de transporte para estes meios até aos pontos aonde devem ser distribuídos [sofreu] uma rutura", detalhou o ministro, acrescentando que também se coloca em causa o rácio de profissionais de saúde por habitantes.
Segundo o ministro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estabeleceu um rácio de 45 profissionais de saúde por cada 10 mil habitantes, mas Moçambique tem pouco mais de 18 profissionais para cada 10 mil habitantes.
"Estamos muito distantes e esta suspensão de apoio naturalmente constitui um desafio enorme para alcançarmos esta meta", referiu Inocêncio Impissa.
"O Governo iniciou um diálogo com a representação dos Estados Unidos da América para reverter ou mitigar o cenário da suspensão do financiamento, mas também mobilizar fontes alternativas de financiamento", acrescentou Inocêncio Impissa.
Avançou ainda que será necessário definir prioridades e otimizar os recursos existentes no país para minimizar o impacto da suspensão de financiamento sobre os serviços essenciais.
"Precisamos definir prioridades do que é que efetivamente não deve fazer falta durante o período em que esta medida se mantiver, mas também explorar os mecanismos emergenciais de financiamento para garantir a continuidade dos serviços críticos até que uma solução durável e sustentável seja, de facto, encontrada", declarou o porta-voz do executivo moçambicano.
Nos primeiros dias do seu segundo mandato, Trump suspendeu toda a ajuda internacional durante 90 dias, com exceção dos programas humanitários alimentares e da ajuda militar a Israel e ao Egito.
PVJ (LN) // VM
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