A segunda maior economia europeia não guinou à (extrema) direita e muitas capitais respiraram de alívio. "Eu e todo o Governo alemão estamos aliviados", reconheceu o chanceler alemão. Antes dele, já o primeiro-ministro polaco se tinha referido ao "entusiasmo em Paris", nas redes sociais.

Também em Bruxelas, fontes de diferentes instituições dão conta do mesmo alívio, ainda que oficialmente, nem o Conselho Europeu, nem a Comissão queiram comentar. O executivo de Ursula von der Leyen refugia-se no habitual argumento de que não comenta resultados eleitorais, para não ser acusada de interferência na política interna.

Só que o alívio é sobretudo no sentido "em que foi evitado o pior cenário". As mesmas fontes dão conta de receios face às consequências do "impasse político". A perspetiva de um parlamento francês paralisado "não é tranquilizadora". Nenhum partido ou aliança formam uma maioria, obrigando a negociações para encontrar uma coligação de Governo junto de diferentes forças e quadrantes políticos.

Essa ginástica política é habitual em muitos Estados-membros - e até no Parlamento Europeu - não é caso único de França. Fonte diplomática aponta para problemas "dentro e vindos de Paris". Entre as preocupações estão as económicas, com os mercados já a reagir. Numa altura que o país entrou num procedimento por défice excessivo, há o receio de que "as reformas se tornem impossíveis e algumas revertidas".

A primeira reforma suspensa foi a do subsídio de desemprego. O decreto deveria ter sido publicado no dia 1 de julho, mas o primeiro-ministro, Gabriel Attal, anunciou a suspensão na noite da primeira volta, face ao resultado desastroso da aliança dos partidos que apoiam o presidente francês, Emmanuel Macron, e num gesto que foi lido como uma tentativa de facilitar a transferência dos votos da esquerda para a segunda volta das eleições legislativas.

Reverter essa reforma era, aliás, uma das bandeiras da Nova Frente Popular (NFP), a coligação de esquerda que acabou por ganhar as legislativas em França e que terá de se entender com o centro liberal de Macron para governar.

O programa da NFP inclui ainda a promessa de revogação da reforma das pensões que Emanuel Macron forçou no ano passado, colocando a idade legal de reforma nos 64 anos. Fazê-la baixar de novo para os 62 anos é o objetivo da aliança que inclui várias forças de esquerda, incluindo comunistas, socialistas e verdes até à esquerda radical da França Insubmissa. Entre as promessas de campanha está ainda a o aumento do salário mínimo para 1600 euros (+14%).

A preocupação em Bruxelas é também com a dívida pública francesa, uma subida que pode ter efeitos também no euro. As previsões económicas de Primavera, publicadas pela Comissão antes de Macron ter convocado as eleições, apontavam para um défice a rondar 5% este ano e no próximo, um crescimento de apenas 0,7% em 2024 e 1,3% em 2025 e uma dívida acima de 112% do produto e a subir. Um cenário que não tinha ainda em conta a atual instabilidade política.

Face a este panorama, resta o otimismo dos parceiros europeus. "Esperamos agora que o Presidente, mas também os representantes eleitos, consigam formar um Governo de forma construtiva", diz Olaf Scholz. A expectativa é a de que possa haver um governo estável, apoiado pela Assembleia Nacional. A outra questão que está por responder é se o novo programa político que sair da futura coligação é compatível com os compromissos europeus.