O Presidente de Moçambique disse esta terça-feira que não tem "dificuldades para dialogar", mas avisou o candidato presidencial Venâncio Mondlane, que convocou manifestações, que é preciso esperar pela validação dos resultados eleitorais pelo Conselho Constitucional (CC).
"Não há dificuldades de dialogar, é o que mais sei fazer. Mesmo que tenha ou não sucesso, não tenho dificuldades em dialogar. Mas, se não está a acontecer, é um problema, porque para haver diálogo é preciso criar confiança", declarou Filipe Nyusi.
O Presidente moçambicano, que falava num encontro com os membros do Sistema de Administração de Justiça ao chefe do Estado por ocasião do Dia da Legalidade, defendeu a criação de "confiança" entre as partes, mas pediu atenção para com o momento político que se atravessa.
"Imagina se a gente senta com o candidato A e B, depois chega-se a uma certa conclusão. O CC diz o quê, agora? Por que não se espera? Qual é a pressa?", insistiu, defendendo que é "preciso respeitar etapas".
Nyusi apelou ao fim do que considera "manifestações violentas", pedindo igualmente o fim da participação de crianças nas marchas.
"Às vezes aderimos àquilo que não compreendemos e depois sentimos a dor daquilo que fazemos por imitação (...). As infraestruturas que estão a ser destruídas, não me interessa se são políticas, sociais ou económicas, todas são necessárias para o país", disse Nyusi, referindo que não vê relação entre a destruição de infraestruturas e reclamações referentes ao processo eleitoral.
"Qual é a relação que há aqui? Não estou a ver. O que se espera? É de forma propositada para desfazer um país e voltar a zero e não ficar referência no mundo", avançou.
Ainda na sua intervenção, Nyusi alertou para as consequências negativas em face das greves e da paralisação das atividades, referindo que o turismo é dos setores mais afetados.
"Estamos no turismo e no momento do pico, no verão (...). Isso vai-se refletir na folha de salário", avisou.
Venâncio Mondlane apelou a uma greve geral e manifestações durante uma semana em Moçambique, a partir de 31 de outubro, e marchas em Maputo a 7 de novembro.
O candidato presidencial designou esta como a terceira etapa da contestação aos resultados das eleições gerais de 9 de outubro, que se segue aos protestos realizados em 21, 24 e 25 de outubro, que provocaram confrontos com a polícia, de que resultaram pelo menos dez mortos, dezenas de feridos e 500 detidos, segundo o Centro de Integridade Pública, uma organização não-governamental moçambicana que monitoriza os processos eleitorais.
A Comissão Nacional de Eleições (CNE) anunciou em 24 de outubro a vitória de Daniel Chapo, apoiado pela Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo, partido no poder desde 1975), com 70,67% dos votos.
Venâncio Mondlane, apoiado pelo Partido Optimista para o Desenvolvimento de Moçambique (Podemos, extraparlamentar), ficou em segundo lugar, com 20,32%, mas afirmou não reconhecer estes resultados, que ainda têm de ser validados e proclamados pelo Conselho Constitucional.
Além de Mondlane, também o presidente da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, atual maior partido da oposição), Ossufo Momade, e um dos quatro candidatos presidenciais, disse não reconhecer os resultados eleitorais anunciados pela CNE e pediu a anulação da votação.
Também o candidato presidencial Lutero Simango, apoiado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM), recusou igualmente os resultados, considerando que foram "forjados na secretaria", e prometeu uma "ação política e jurídica" para repor a "vontade popular".