Em 2001, Britney Spears e Justin Timberlake eram o casal do momento e tomaram de assalto os American Music Awards com um visual tão ousado quanto inesquecível: “ganga com ganga”.

Os dois ícones da cultura pop transformaram o simples tecido num grito de estilo e irreverência que, nos dias de hoje, é associado aos dois artistas norte-americanos.

Mais de duas décadas depois, Miguel Luz veste esse mesmo espírito no álbum “Ganga Com Ganga”. Tal como o mítico conjunto de Spears e Timberlake, o seu novo trabalho é uma mistura de ousadia, autenticidade e autoexpressão sem filtros.

Britney Spears e Justin Timberlake, em 2001, na 28.º edição dos American Music Awards
Britney Spears e Justin Timberlake, em 2001, na 28.º edição dos American Music Awards Jeffrey Mayer / Getty Images

Em entrevista à SIC Notícias, o músico, de 27 anos, conta que se inspirou na namorada. No outfit de ganga dela, imaginou um mundo paralelo em que dois personagens faziam pandã.

“Isto foi, no fundo, inspirado na minha namorada, que sempre usou ganga com ganga. A primeira memória que tenho é de a ter conhecido assim. Então imaginei um mundo para este álbum, algo em que as pessoas pudessem mergulhar. Um mundo que tinha dois personagens de ganga com ganga. Pensei que seria engraçado eu ser um personagem de ganga com ganga que faz pandã com esta rapariga de ganga”, explica.

"Pais dizem-me que o filho só come a sopa quando põem a Amor de Ganga"

Lançada em outubro de 2024, “Amor de Ganga” conta com mais de um milhão de visualizações no YouTube e colocou Miguel Luz em quase todas as rádios nacionais. Questionado sobre se esperava que a canção se tornasse num sucesso, o artista diz que sim e conta uma curiosidade.

“Eu esperava que sim. Mas não estava à espera que fosse exatamente assim. Agora recebo vídeos de pais a dizer que o filho não come a sopa, mas quando põem a “Amor de Ganga”, ele fica contente e começa a comer a sopa. Portanto, fico contente por poder ajudar os pais a alimentar as crias”, brinca.

“Andava sempre com um caderninho para apontar coisas quando ouvia alguém a dizer”

Todas as 12 músicas presentes no “Ganga Com Ganga” contam com letras que fazem uso de metáforas e brincadeiras com a língua portuguesa. Miguel Luz confessa que, desde jovem, andava sempre com um caderninho a anotar as expressões que ouvia dos seus avós e pais.

“São expressões que sempre ouvi muito os meus avós e os meus pais a dizer. Gosto muito da cultura portuguesa e das expressões. Andava sempre com um caderninho para apontar coisas quando ouvia alguém a dizer. E este estilo de música também puxa uma escrita que tentei fazer mais metáforas, tentar brincar mais com a língua portuguesa, que acho que há muito por onde pegar”, explica.

Inspiração à inglesa

A técnica de andar sempre com um caderno foi inspirada em Alex Turner, dos Arctic Monkeys. Aliás, foi da banda britânica que Miguel “bebeu mais” para produzir este álbum.

“Ganga Com Ganga” tem semelhanças com os primeiros álbuns do conjunto de Sheffield, principalmente no estilo lírico e na abordagem musical.

“Os Arctic Monkeys sempre foram a minha banda favorita. Gosto muito da música britânica, dos tons das guitarras e do tipo de letras”, confidencia.

Nas letras, tanto Luz como Turner exploram temas do quotidiano e das relações pessoais com grande autenticidade, utilizando expressões culturais locais de forma criativa.

Trazem uma energia jovem e irreverente, sem pretensões, e com letras que soam como um diário pessoal, refletindo as experiências da geração a que pertencem.

Uma carreira de quase duas décadas

Apesar de estar a viver mais sob os holofotes neste momento, a verdade é que Miguel Luz tem uma carreira com quase duas décadas, incorporando várias vertentes.

Aos 10 anos, começou a produzir conteúdos humorísticos em vídeo e rapidamente se destacou na plataforma YouTube.

Em 2016, estreou-se no mundo da escrita e lançou o livro “Curso Intensivo Para Sobreviveres à Escola”.

No final do ano seguinte, sob o alter-ego Mike Lyte, editou o primeiro disco de originais "CROCODILDO" no qual juntou o seu sentido de humor aos instrumentais de hip-hop.

Em 2019, aventurou-se no mundo dos podcasts com o ‘Janela Aberta’, em que, segundo o próprio, “pensava em voz alta sobre o que lhe apetecesse, sozinho ou com convidados”.

Além disso, criou uma linha de roupa inspirada na cultura portuguesa.

“Nunca fiz um filme…”

O que será que se segue? Miguel Luz quer ainda lançar um álbum estilo Frank Sinatra e fazer um filme.

“Gostava muito de fazer um álbum tipo Frank Sinatra, que é completamente fora do meu alcance vocal, mas acho que seria muito divertido. Gostava muito de um dia fazer um filme, mas não sei bem como. Imagino-me a ir experimentar essa área. Também gosto muito de representar. Aliás, eu comecei no YouTube a usar perucas e a fazer personagens, afirma o artista.

Miguel Luz prepara-se para apresentar as novas canções ao vivo no Capitólio, em Lisboa, nos dias 3 e 4 de abril. No dia 5, será a vez de atuar no Hard Club, no Porto.

Com o nervosismo apenas a pairar no dia em que irá subir ao palco, o músico mostra-se entusiasmado e considera um feito esgotar aquelas três datas em tão pouco tempo.

“Estou muito contente, mas ainda não parece real. Estou entusiasmado, mas vou ter de passar o nervosismo naquele dia. Mas é um feito para mim ter lançado este álbum e agora fazer estas três salas”

Miguel Luz promete uma montanha-russa no alinhamento dos concertos.