Um novo estudo está a trazer a esperança de voltar a andar a doentes que sofreram de lesões na medula espinal. A resposta pode estar na estimulação elétrica de certas zonas do cérebro.

A investigação, publicada na revista Nature Medicine, está a ser levado a cabo por uma equipa de cientistas na Suíça.

O ensaio passa por colocar eléctrodos - polos condutores de corrente elétrica, isto é - no cérebro, ligados a um dispositivo implantado no peito. É este dispositivo que permite enviar impulsos elétricos para o cérebro.

De acordo com a agência France Press, a técnica experimental está a ser aplicada a quem tem lesões parciais na medula espinal – ou seja, em casos em que a ligação entre o cérebro e a medula não ficou completamente destruída.

Para desenvolver esta técnica, os investigadores usaram imagiologia 3D para mapear a atividade cerebral de ratinhos com este tipo de lesões na medula e criaram uma espécie de “atlas cerebral”. Foi assim que descobriram a região do cérebro que seria sensível aos estímulos dos eléctrodos: uma zona que fica no hipotálamo lateral (conhecido por regular mecanismos como a fome, a temperatura e a pressão arterial).

É nesta zona do cérebro que está um grupo de neurónios que, ao que indica a investigação, estará “envolvido na recuperação da marcha após uma lesão da medula espinal”, afirmou, em declarações à FrancePress, GrégoireCourtine, professor de neurociências na École Polytechnique Fédérale de Lausanne, na Suíça.

Aquilo que os investigadores fizeram foi procurar amplificar o sinal do hipotálamo lateral utilizando a estimulação cerebral. E, segundo o estudo, os testes realizados em ratos mostraram que a estimulação melhorava “imediatamente” a capacidade de andar.

“Agora sei que posso subir uma escada sozinho”

Wolfgang Jàger, um suíço de 54 anos que sofreu uma lesão na medula espinal, é um dos dois pacientes que participaram no primeiro ensaio do estudo.

Além da estimulação elétrica, teve de passar por meses de reeducação e treino muscular. Mas valeu a pena. Foi capaz de subir e descer alguns degraus, depois de o dispositivo ter sido ligado ao seu cérebro.

“Agora, quando vejo uma escada com poucos degraus, sei que a posso subir sozinho. É bom não ter de estar sempre a depender de outras pessoas” , afirmou o paciente.

A outra participante do estudo, uma mulher não identificada, terá afirmado que voltou a sentir as pernas e a ter vontade de andar.

Os cientistas alertam, contudo, que é preciso continuar a investigação e aprofundar o estudo da técnica, uma vez que pode não ser eficaz para todos os doentes.