O Departamento de Estado norte-americano considerou hoje "particularmente preocupante" a "exclusão de candidatos do processo político", reagindo à sentença de inelegibilidade imediata de cinco anos aplicada à líder histórica da extrema-direita francesa Marine Le Pen.

"A exclusão de indivíduos do processo político é particularmente preocupante, dada a guerra judicial agressiva e corrupta que está a ser travada contra o Presidente Donald Trump aqui nos Estados Unidos", disse aos jornalistas a porta-voz do Departamento de Estado, Tammy Bruce.

Questionada durante um briefing no Departamento de Estado, Bruce escusou-se a comentar diretamente a condenação de Marine Le Pen, mas afirmou que "é necessário fazer mais no Ocidente para defender os valores democráticos".

Recordou ainda o discurso do vice-Presidente norte-americano em fevereiro na conferência de Munique, em que JD Vance apoiou abertamente aos pontos de vista dos partidos populistas europeus.

"Em toda a Europa, a liberdade de expressão, receio, está a recuar", afirmou Bruce.

Le Pen, líder do grupo parlamentar da União Nacional (RN, na sigla em francês), foi hoje condenada pelo Tribunal de Paris a quatro anos de prisão, dois dos quais não suspensos e sujeitos a um sistema de vigilância eletrónica, a uma multa de 100.000 euros e a cinco anos de inelegibilidade, a cumprir imediatamente e aplicados mesmo em caso de recurso.

A potencial candidata presidencial da RN e oito eurodeputados franceses da União Nacional foram considerados culpados de terem desviado fundos públicos do Parlamento Europeu.

A responsável do Departamento de Estado afirmou ainda que Washington "apoia o direito de todos a expressarem as suas opiniões na praça pública, quer concordem com elas ou não".

Bruce contestou mesmo a descrição que um jornalista fez de Le Pen como sendo de "extrema-direita", afirmando que o termo poderia ser considerado "depreciativo".

O Conselho Superior da Magistratura (CSM) francês manifestou hoje a sua "preocupação com as reações virulentas" perante a condenação de Marine Le Pen, considerando-as "suscetíveis de comprometer gravemente a independência do poder judicial".

"As ameaças dirigidas pessoalmente aos magistrados encarregados do processo, bem como as declarações de responsáveis políticos sobre o mérito da acusação ou da condenação, nomeadamente durante as deliberações, não podem ser aceites numa sociedade democrática", declarou o organismo francês numa rara declaração pública.

O papel do CSM é garantir a independência dos magistrados em relação ao poder executivo.

O líder do RN, Jordan Bardella, considerou o veredicto "um escândalo democrático".

Também o político de extrema-direita francês Eric Zemmour, antigo candidato presidencial, escreveu na rede social X que "não cabe aos juízes decidirem em quem o povo deve votar".

"Independentemente das nossas divergências", Marine Le Pen "tem legitimidade para se apresentar ao sufrágio", considerou.

As reações a contestar a deliberação chegaram também de líderes europeus nacionalistas e de extrema-direita, como o primeiro-ministro húngaro, Viktor Orbán, o líder da Liga italiana, Matteo Salvini, o líder do partido espanhol Vox, Santiago Abascal.

Nos Países Baixos, o líder do partido de extrema-direita, Geert Wilders, considerou a decisão "incrivelmente dura", e o porta-voz do Kremlin (presidência russa), Dimitri Peskov, disse que este desfecho no tribunal é uma clara "violação das normas democráticas".