"Correntes (...) e firmes na nossa posição, sem pressão de ninguém, tomámos a iniciativa de passar o testemunho da liderança do partido ao novo ciclo governativo, mantendo, deste modo, a tradição da unicidade de comando", explicou Filipe Nyusi, durante o seu discurso de abertura da reunião do Comité Central da Frente de Libertação de Moçambique (Frelimo) na Matola, nos arredores da capital moçambicana.

Juntando 254 membros, o Comité Central da Frelimo está hoje reunido para eleger Daniel Chapo, já empossado chefe de Estado, como presidente do partido no poder em Moçambique, na terceira sessão extraordinária do órgão máximo do partido entre congressos, um encontro que também vai escolher um novo secretário-geral.

Na presidência da Frelimo, Chapo vai substitui Filipe Nyusi, que foi Presidente da República nos últimos dez anos.

Todos os anteriores chefes de Estado de Moçambique foram também presidentes da Frelimo, partido no poder desde 1975, e que agora também tem a maioria absoluta no parlamento, 171 assentos.

Para Filipe Nyusi, embora a separação de poderes entre o Presidente do partido e de chefe de Estado esteja a ser um tema debatido atualmente dentro e fora do partido, a Frelimo decidiu manter a "tradição".

"Não pretendemos fechar este debate pois nem temos competências para tal, no entanto, achamos ser matéria que requer o aprofundamento e decisão do órgão máximo da Frelimo, que é o congresso", declarou Nyusi.

De acordo com os estatutos da Frelimo, o Comité Central tem a competência de "eleger, entre os seus membros, por maioria de dois terços, o presidente do partido, no caso de substituição por morte, renúncia ou incapacidade", sob proposta da comissão política, pelo que, face à saída de Nyusi antes do final do mandato, não será necessário convocar um congresso.

Formado em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade Eduardo Mondlane, em Maputo, em 2000, Daniel Francisco Chapo, de 48 anos, nasceu em Inhaminga, província de Sofala, centro de Moçambique, em 06 de janeiro de 1977, sendo por isso o primeiro Presidente nascido já depois da independência do país (1975).

Chapo, que já foi locutor de rádio, docente universitário e administrador, era, até à altura da sua indicação com candidato da Frelimo, pelo Comité Central, em maio do ano passado, um político de "perfil discreto" que governava, desde 2016, a província turística de Inhambane, no sul de Moçambique.

Apontado pela Frelimo como uma "proposta jovem", assumiu em 15 de janeiro a Presidência moçambicana no ano em que o país assinala 50 anos de independência, um período marcado, entretanto, pela maior contestação aos resultados eleitorais desde as primeiras eleições, 1994.

Desde outubro, pelo menos 327 pessoas morreram, incluindo cerca de duas dezenas de menores, e cerca de 750 foram baleadas durante os protestos, de acordo com a plataforma eleitoral Decide, organização não-governamental que acompanha os processos eleitorais.

São manifestações e paralisações convocadas, primeiro, pelo antigo candidato presidencial Venâncio Mondlane, que não reconhece os resultados. Na rua, hoje, os protestos são maioritariamente assumidos por jovens, que questionam os 50 anos da governação da Frelimo e, além do argumento da verdade eleitoral, incluem, como motivações, o desemprego e a baixa escolaridade, que, dos 32 milhões de moçambicanos, afeta um terço dos cerca de 9,4 milhões de jovens.

Essencialmente, no seu manifesto, com o slogan "Vamos Trabalhar", a prioridade é "atacar a burocracia e a corrupção", avançou Chapo, em entrevista à Lusa em outubro, destacando que governar o país era uma "missão" lhe havia sido atribuída pela Frelimo.

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