Em abril de 2022, quando falou à agência Lusa pela primeira vez, Liudmyla Simochova só sabia pronunciar-se em ucraniano, o que requereu a ajuda de um tradutor. Agora, quase um ano depois, já 'arranha' o português e faz-se entender.
"Quando a guerra acabou, eu voltar ao meu país", afirma a refugiada, que frequentou em Évora um curso para aprender a língua.
Liudmyla e os três filhos - Luca, David e Violetta - deixaram a capital da Ucrânia, Kiev, onde residiam, no início de março de 2022, pouco depois do início da invasão russa do país, e vivem em Évora desde abril do ano passado.
Quando chegaram à cidade alentejana, foram viver com um casal neerlandês e, agora, estão numa quinta situada na periferia da cidade, emprestada durante alguns meses pelo proprietário.
À medida que dá a entrevista, a ucraniana opta por falar em inglês, por se sentir mais confortável e ainda não ser fluente em português, e conta à Lusa que chegou de carro a Portugal. Esperava ficar pouco tempo, mas a continuidade da guerra fê-la mudar de ideias.
"Não pretendia ficar seis meses ou 10 meses, mas, agora, olho para o meu país e, por exemplo, sei que lançaram 'rockets' em Kiev, na minha cidade, na minha área. Li nas notícias e, se eu voltar, não sei o que pode acontecer", realça.
Sem planos sobre quanto tempo vai permanecer longe de casa e da família, Liudmyla, de 45 anos e divorciada, afirma com todas as certezas saber que um dia, quando os estrondos da invasão russa da Ucrânia se calarem, quer voltar para o seu país, onde ficaram a sua mãe e a sua irmã.
Por agora, fica ainda em Portugal, porque a guerra não terminou: "Eu agora vivo aqui, adaptei-me, aprendo a língua, terminei os níveis A1 e A2 de português e tento falar, adaptar-me e encontrar novos amigos para a minha família, para os meus filhos", salienta, elogiando os portugueses, "muito gentis e abertos".
Quanto à escolha do país, Liudmyla diz que "não queria ficar perto" da Ucrânia, por não saber "se a guerra muda" e "começa noutro país" vizinho, e recusa uma nova mudança, porque essa opção "é como se fosse começar de novo".
A refugiada trabalha no clube de natação Aminata, na área da limpeza, e os filhos frequentam a escola. Violetta, de 17 anos, e David, de 15, estão na Secundária Severim Faria, enquanto Luca, o mais novo, com 12 anos, está na Básica Manuel Ferreira Patrício.
Apesar da ajuda que recebeu dos portugueses e de gostar do país, 'nem tudo são rosas'. Os dois filhos mais velhos, ambos no 10.º ano, têm tido uma adaptação difícil e "ainda não têm amigos na escola".
"É difícil porque, agora, já não são crianças", conta, indicando que Violetta e David até "falam com crianças portuguesas, mas pouco", se for em inglês, mas os amigos "ficaram na Ucrânia". Com eles, mantêm contacto por telefone ou 'online'.
Já com Luca, que está no 6.º ano, a adaptação "é mais fácil", porque, além de falar "um pouco" de inglês, "tenta falar português também" e, com uma "mistura de inglês e português", já "tem muitos amigos".
Tal como o filho mais novo, também Liudmyla afirma que já fez novas amizades em Portugal, sobretudo no trabalho e na vizinhança, e já pensa voltar à área em que trabalhava na capital ucraniana, onde era gerente de vendas numa imobiliária.
"Quando começar a falar português, talvez tente ser gerente de vendas em Portugal também", acrescenta.
Parco em palavras, o jovem Luca diz à Lusa que gosta da sua escola e que tem lá "bons amigos e professores portugueses", admitindo que "talvez quando a guerra acabar volte para a Ucrânia".
A Rússia invadiu a Ucrânia no dia 24 de fevereiro de 2022, há quase um ano, com o argumento de que queria "desnazificar" e "desmilitarizar" o país vizinho.
A guerra -- chamada por Moscovo de "operação militar especial" - foi condenada pelos chamados países do Ocidente, que têm mandado armamento para ajudar Kiev a combater Moscovo, além de imporem sanções a empresas, indústrias e personalidades russas.
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Lusa/fim