"Vamos continuar a apelar para a comunidade internacional para que o direito internacional não sirva só para se aplicar a alguns e a outros não", afirmou o chefe do executivo, quando questionado sobre a reunião ministerial daquela organização, que tem início sexta-feira em Díli.

Xanana Gusmão, que falava após o encontro semanal com o chefe de Estado, tem criticado publicamente a aplicação do direito internacional, que considera não estar a ser feita de forma consistente, mas seletiva, levando a que os conflitos internacionais não sejam tratados com igual importância.

No final do ano passado, o líder timorense criticou a Cimeira de Paz na Ucrânia, realizada em Genebra, salientando que saiu desiludido por não se ter falado de diálogo ou reconciliação, mas apenas de dinheiro, de comprar mais armas, ou seja, um "exercício de reafirmação da vontade de continuar a guerra".

"Expressei, em nome do g7+ também, que a grande hipocrisia dos grandes países é falarem muito do direito internacional, que só se aplica alguns", disse Xanana Gusmão, explicando que a aplicação varia conforme se fala da Ucrânia ou de Gaza.

A capital de Timor-Leste vai receber sexta-feira e sábado a sexta reunião ministerial do g7+ que junta pela primeira vez os chefes da diplomacia da organização, que assinala 15 anos de existência.

O g7+ é um fórum no qual os países-membros procuram influenciar o discurso global sobre paz, estabilidade e resiliência, bem como definir ações conjuntas para atingir aqueles objetivos.

A organização intergovernamental foi estabelecida em 10 de abril de 2010, em Díli, e surgiu com a preocupação, partilhada pelos Estados-membros, de que a cooperação tradicional para o desenvolvimento não melhorava a situação das nações frágeis.

Afeganistão, Burundi, República Centro-Africana, Chade, Comores, Costa do Marfim, República Democrática do Congo, Guiné-Conacri, Guiné-Bissau, Haiti, Libéria, Papua-Nova Guiné, São Tomé e Príncipe, Serra Leoa, Ilhas Salomão, Somália, Sudão do Sul, Timor-Leste, Togo e Iémen são os Estados-membros do g7+.

Sobre a organização, Xanana Gusmão disse também que "há um problema interno", referindo-se ao facto de ser constituída por estados frágeis, muitos dos quais afetados por conflitos.

"Temos de continuar a apoiar-nos uns aos outros para sair da situação de conflito, de falta de unidade e entrar num ambiente de mais tolerância, de mais unidade nacional", afirmou o primeiro-ministro.

Xanana Gusmão destacou, contudo, que há países do g7+ que "fizeram um esforço enormíssimo e estão a ser exemplo de conquistas democráticas".

O g7+ tem estatuto de observador permanente junto da Assembleia-Geral da ONU desde dezembro de 2019 e na Comunidade dos Países de Língua Portuguesa desde julho de 2021.

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