
Henrique Gouveia e Melo afirma que “há muito tempo” para tomar uma decisão sobre uma candidatura à Presidência da República. O antigo chefe do Estado-Maior da Armada rejeita qualquer “pressa” para anunciar se estará na corrida a Belém.
Gouveia e Melo defendeu, esta tarde, que o artigo que assinou no jornal Expresso, no qual seapresenta politicamente, foi um exercício de “participação cívica”, rejeitando uma associação do mesmo a uma candidatura presidencial.
“Estive 45 anos debaixo de um estatuto que me limitava a minha participação cívica. E agora tenho uma liberdade cívica diferente”, notou o antigo militar, à margem de uma conferência sobre "O Papel de Portugal no mundo", na Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.
“Escrever artigos sobre as matérias que me interessam (...) é um direito cívico de participação cívica.”
Henrique Gouveia e Melo descartou, no momento, o anúncio de uma eventual candidatura: “Não é aqui que eu vou desfazer algum tabu”.
“ Há muito tempo para decidir, há muito tempo para refletir, não há necessidade de nenhuma pressa e eu estou a fazer o meu percurso” , alegou.
“Europa é superior à Rússia”, mas tem “pouca vontade”
O antigo chefe do Estado-Maior da Armada comentou também a atual posição europeia face à Rússia e ao conflito na Ucrânia. Gouveia e Melo considera que a Europa tem mais capacidade do que Moscovo, mas afirma que falta vontade aos líderes europeus.
“Alguém tem dúvidas de que a União Europeia tem uma capacidade superior à Federação Russa? Tem uma população três vezes superior, tem uma economia que é dez vezes superior e tem capacidades tecnológicas iguais ou superiores à Federação Russa”, sustentou.
“ O que acontece é que há muita capacidade, mas tem havido pouca vontade. Nós temos que encontrar essa vontade, até porque de outra forma, se não a encontrarmos, teremos consequências óbvias, quer na nossa prosperidade, quer na nossa segurança ”, defendeu.
Gouveia e Melo sublinhou ainda que, para os portugueses, é “muito importante garantir que há uma “visão atlantista” entre os aliados económicos e militares do país.
“Essa visão, neste momento, corre perigos. Vamos viver momentos difíceis e momentos complicados na nossa vida nacional e no nosso contexto internacional”, alertou.
Serviço militar obrigatório? “Não sou adepto”
Henrique Gouveia e Melo foi ainda questionado sobre o serviço militar obrigatório, garantindo que, no passado, apenas pretendeu abrir o debate sobre o tema. O antigo militar diz mesmo que não é particularmente fã dessa opção.
“ Não há necessidade de avançarmos para um serviço militar obrigatório. Há outras formas de nos organizarmos de forma tão ou mais eficiente ”, defendeu Gouveia e Melo.
"Não sou adepto do serviço militar obrigatório. Eu era adepto de outra coisa que disse no mesmo artigo, ou de uma coisa mais inteligente”, remetendo para o governo a responsabilidade por essasolução.
“ Os militares são voluntários, que passam seis anos nas Forças Armadas e depois vão para a vida civil. Com e sses militares, até aos 50 anos, com os incentivos certos, pode-se constituir uma reserva. Vão às suas vidas, mas em caso de necessidade e de urgência, poderão voltar a servir nas Forças Armadas. E já teriam o treino ”, propôs o antigo militar.
O antigo chefe do Estado-Maior da Armada tinha defendido, no último ano, num outro artigo de opinião publicado no Expresso, que o serviço militar obrigatório “ou outra variante mais adequada” poderia ser uma “medida necessária” para melhorar despesas e resultados e “gerar uma maior disponibilidade da população” para o setor da Defesa.