O presidente da Câmara Portuguesa de Comércio e Indústria do Rio de Janeiro considerou que, face à guerra comercial, Portugal deve virar-se para o Brasil e procurar ratificar o acordo entre a União Europeia e o Mercosul.

"A conjuntura internacional mostra-nos, mais uma vez, que a estabilidade das grandes potências é tudo menos garantida. A 'guerra comercial' e a instabilidade subsequente, obriga-nos a repensar onde e como queremos posicionar as nossas empresas", começou por dizer, à Lusa, António Montenegro Fiúza, à margem da Web Summit, que decorre entre domingo e quarta-feira na cidade brasileira do Rio de Janeiro.

Os Estados Unidos impuseram 10% de direitos aduaneiros adicionais aos produtos europeus que entram nos Estados Unidos, sendo que o Presidente norte-americano, Donald Trump, tem ameaçado aumentar a sobretaxa para 20%. Além disso, impôs direitos aduaneiros de 25% sobre o aço, o alumínio e os automóveis.

A União Europeia está há semanas a tentar encontrar uma solução para o diferendo comercial desencadeado por Trump, pouco depois de regressar à Casa Branca, com o republicano a acusar os parceiros comerciais dos Estados Unidos de roubarem o país.

Para o responsável português, o caminho é evidente: "devemos olhar para o Brasil e para o Mercosul com olhos estratégicos. Não apenas como um refúgio em tempos incertos, mas como uma escolha sólida para o futuro".

Em paralelo, António Montenegro Fiúza defendeu que Portugal deve ser um ator ativo dentro da União Europeia (UE) para que o acordo comercial com o Mercosul seja ratificado, de forma a abrir novos mercados para as empresas portuguesas.

"A ratificação do acordo UE-Mercosul é, para nós, é uma urgência e uma oportunidade", sublinhou, recordando que existem obstáculos ambientais, políticos e ideológicos, mas que estes devem ser superados já que "há um potencial económico gigantesco à espera de ser libertado"

"Portugal pode e deve ser um facilitador desse entendimento. Temos relações históricas, conhecimento mútuo, canais de confiança. Usemos isso a nosso favor", realçou o responsável português.

A Comissão Europeia conta apresentar até ao fim do verão uma proposta sobre o acordo entre a União Europeia e o Mercosul ao Parlamento Europeu e ao Conselho Europeu, mas garantiu também que todas as preocupações das capitais dos 27 do bloco europeu serão ouvidas.

A líder da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, e os presidentes dos quatro países do Mercosul concluíram em 06 de dezembro as negociações sobre um acordo de parceria entre os dois blocos.

Com a forte oposição de países como a França e a Irlanda, mas com o apoio declarado de países como Portugal e Espanha, o acordo ganhou recentemente visibilidade no âmbito das tarifas adicionais que os Estados Unidos querem impor às importações da UE.