O secretário-geral das Nações Unidas exigiu um cessar-fogo imediato entre Israel e o Hamas e classificou o “nível de sofrimento” na Faixa de Gaza como “sem precedentes” durante o seu mandato. “Nunca vi tanto nível de morte e destruição como estamos a ver em Gaza nos últimos meses”, disse António Guterres, que lidera a organização desde 2017, numa entrevista.

O responsável diz ser irrealista pensar que Israel poderá aceitar que a organização desempenhe um papel no futuro de Gaza, quer a administrar o território ou a enviar uma força internacional de manutenção da paz. Ainda assim, Guterres garantiu que as Nações Unidas “estarão disponíveis para apoiar qualquer cessar-fogo” que ponha fim ao conflito, do qual resultou a morte de mais de 41 mil palestinianos desde 7 de outubro, quando o Hamas matou cerca de 1200 pessoas num ataque surpresa em solo israelita.

O ministro da Defesa israelita declarou que o exército está “perto de concluir” os objetivos na Faixa de Gaza e indicou que se concentrará depois em combater o grupo xiita libanês Hezbollah e garantir a segurança na fronteira norte. “O centro de gravidade está a deslocar-se para norte, estamos perto de concluir a nossa missão no sul, mas aqui [no norte] temos uma tarefa que ainda não completámos: mudar a situação de segurança e [assegurar] o regresso dos residentes às suas casas”, disse Yoav Gallant às tropas no norte do território israelita, junto à fronteira com o Líbano, enquanto realizavam uma simulação de ofensiva terrestre do país vizinho.

Danos em apartamento alvo de ataque aéreo israelita no Líbano
Danos em apartamento alvo de ataque aéreo israelita no Líbano MAHMOUD ZAYYAT

Gallant defendeu ainda, numa entrevista, que o Hamas “como formação militar, já não existe”. “O Hamas está agora a travar uma guerra de guerrilha e nós continuamos a combater os terroristas do Hamas e a perseguir os líderes do movimento”, sustentou. O ministro reiterou que um acordo de tréguas entre Israel e o Hamas, que permita a libertação dos reféns detidos em Gaza, seria uma “oportunidade estratégica” para Israel.

Já o Hezbollah anunciou ter lançado “dezenas” de rockets contra duas bases militares no norte de Israel, em resposta a ataques que mataram uma pessoa e feriram 14 em duas cidades libanesas distantes da fronteira comum. O exército israelita afirmou ter matado um alegado comandante das forças de elite Radwan do Hezbollah numa área próxima, embora o grupo xiita não tenha confirmado o cargo que a vítima ocupava.

De acordo com o exército, Mohammad Qassem al-Sha’a “promoveu numerosas atividades terroristas contra o Estado de Israel” e esta “eliminação prejudica ainda mais a capacidade do Hezbollah de promover e lançar” ataques contra a fronteira norte do país.

Outras notícias do dia:

⇒ As forças israelitas atingiram uma zona humanitária no sul de Gaza, incendiando tendas de famílias palestinianas, onde morreram pelo menos 19 pessoas. Os militares israelitas afirmaram ter atingido um centro de comando dos combatentes do Hamas, que alegadamente se infiltraram na zona humanitária em al-Mawasi, em Khan Yunis. O Hamas negou a presença de combatentes.

⇒ A campanha de vacinação contra a poliomielite dirigida a crianças na Faixa de Gaza começou nesta terça-feira no norte do território palestiniano, segundo a Organização Mundial da Saúde, apesar de ter sido “travada” uma caravana humanitária com combustível e especialistas. Depois do centro e do sul da Faixa de Gaza, a campanha desloca-se para norte entre 10 a 12 de setembro.

⇒ O exército israelita anunciou ter matado há várias semanas Mahmud Hamdan, comandante do último batalhão do Hamas na cidade de Rafah, no sul da Faixa de Gaza, num ataque com um drone. “Ele desempenhou um papel importante no planeamento da invasão a Israel a 7 de outubro e elaborou os seus planos na cidade de Rafah antes da entrada das tropas”, indicou em comunicado. A nota refere também que, em “ataques adicionais”, as tropas mataram outras altas patentes do batalhão, responsável pela zona de Tal al-Sultan em Rafah, juntamente com dezenas de combatentes das milícias.

⇒ A guerra civil na Síria, iniciada há 13 anos, está a intensificar-se novamente devido ao aumento das tensões regionais causadas pelo conflito vizinho em Gaza, provocando novos ataques contra civis, alertam as Nações Unidas. Num novo relatório, a apresentar na próxima semana ao Conselho de Direitos Humanos, a missão de inquérito das Nações Unidas para o território sírio, presidida pelo brasileiro Paulo Pinheiro, afirma que, nos últimos meses, as hostilidades aumentaram em várias frentes do conflito.

⇒ O número de mortos nos bombardeamentos efetuados no domingo pelo exército israelita contra a Síria subiu para 26, incluindo cinco civis, de acordo com o Observatório Sírio dos Direitos Humanos. Outras 32 pessoas ficaram feridas, várias em estado grave.

⇒ O exército israelita declarou que a morte de uma ativista norte-americana baleada na cabeça por soldados israelitas durante um protesto contra os colonatos na Cisjordânia, na semana passada, não foi intencional. “As conclusões indicam que a civil foi ferida muito provavelmente em resultado de um disparo indireto e não intencional dirigido a um instigador”, apontou em comunicado o exército israelita.

⇒ Também na Cisjordânia, o exército israelita reativou a “operação antiterrorista” na cidade de Tulkarem, até à semana passada palco de vários dias de incursões das tropas israelitas, que se concentraram no norte daquele território palestiniano. A operação foi lançada a 28 de agosto com uma série de ataques em Tulkarem, Tubas e Jenin, de onde as forças israelitas se retiraram na sexta-feira. O exército afirma agora que vai prosseguir as operações.

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